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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia dos Vivos




De longe observo as palavras. Elas estão a poucos sentidos da mão, e ainda não me pertencem. Eu sei que a história toda está pronta e quase a alcanço. A marca d’água , para  os que escrevem, é uma realidade sombreada de cotidiano . Lá, nossas mãos são feitas de vidro e a voz é distorcida em notas que sobem e descem infinitamente como uma melodia desafinada. O corpo se alonga como a imagem  num jogo de espelhos, se retrai e se achata no instante seguinte. Lá não temos lembranças e marchamos obedientes  às manhãs úmidas e brancas. Lembro-me  de minha mãe e seu imenso amor pelos miseráveis do mundo. Lembro-me de todas as histórias de bruxas e princesas que contei nas distantes noites de infância , quando eu era o centro do círculo e minha voz soprava aos ouvidos atentos. Eu ainda não dominava o lápis mas tinha a propriedade da narrativa. A história, sinto muito, era minha. Sempre deixei mais tempo sob os refletores:  a Bruxa. Se vivi no tempo da  inquisição, fui arremessada a um precipício fundo e minha  saia escura se inflou ao vento antes do baque surdo  - tudo por que eu imaginava. Daquele tempo até chegar aqui assombrei  Bibliotecas Publicas,  nas madrugadas, quando os leitores e os guardas deixavam as salas vazias.  Um dia ,  um Anjo-Traça disse: Vá lá fora, o temporal passou . Há um dia dedicado aos mortos e às bruxas.   Ele contudo, esqueceu de falar sobre os dias em caixa fechada: os  presentes- surpresa .Um brinde aos vivos e a  todas as meninas que inventam histórias coloridas.
Viva o dia da Vida e  das bruxas com alma de princesa
L.A

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