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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

JANELA DE ÔNIBUS


LUIZ MARTINS DA SILVA

Nem chegava a ser aldeia,

Mas tão somente um enclave

De casinholas plantadas

Em meio a torrões de areia.



Linha limite de olhar rente,

Olhos de câmera a insistir

Em registrar em retinas

Aquela teima de gente.



E não é que havia festa,

Sons de imaginários caniços,

Música para ouvidos secos

Acordes de surda planície!



Que instinto lhes tangia?

Caprichos da natureza?

Colher encanto e beleza

Em canteiros de anestesia?



Que graça a vida em confins

Terá para tais serventia?

Devotos da solidão

Sequidão e castidade?



Pior a não mais se ver

Paisagem para cidade

E não é que fluía no ar

Mormaços de saciedade?



De toda aquela modorra

Ficou-me paz solidária

Dos escondidos afetos

De quem vive sem calendário.



Talvez a lhes ungir no deserto

Um fraternal sentimento

De que há sempre um feriado,

Matiz de aldeia sonolenta.



Lembranças em desconcerto

Persistem pretéritas afora

Enchendo-me de convencimento

De que posso ser feliz, mesmo agora.

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