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domingo, 14 de novembro de 2010

O ENTREGADOR DE LIVROS



“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.”


Cora Coralina


Diz o filme “Peixe Grande” que um homem conta suas histórias tantas vezes que ele se mistura a elas , e las sobrevivem a ele, e é deste jeito que ele se torna imortal. Manuel de Jesus Lima é um Contador de Histórias. Discípulo de Cora Coralina redigiu o primeiro livro da escritora. As tardes da Casa da Ponte, feitas de café passado no coador e doces cristalizados, ficaram para sempre nas águas do Rio Vermelho; nas calçadas de pedras de Goiás Velho. No caminhão de mudança para Brasília, apenas boas lembranças da cumplicidade literária entre o rapaz Manoel e Dona Cora. A reportagem de capa do Correio Braziliense, de 14 de março, nos fala como um homem pode salvar o seu sonho. Autor do livro A Guerra de Juquinha e outras Guerras, cuja edição foi custeada com as economias ao longo dos anos, não conseguindo vendê-los tomou uma decisão extremada: colocou um anúncio nos classificados doando-os a quem os quisesse, bastando telefonar. Desde então seu telefone não parou mais de tocar. Regularmente, Seu Manoel pega sua camionete branca e faz as entregas dos livros. Bibliotecas, residências, escolas. Quem pede, lá vai ele dirigindo ao encontro de um provável leitor de sua obra desconhecida. Provavelmente seus dois mil exemplares ganharão definitivamente leitores donos, pois neste país diz o dito popular: de graça, até injeção na testa. Numa linguagem de Guimarães Rosa, onde os personagens se misturam como numa novela de Garcia Marques, estão as aventuras do menino herói do Sertão. O ato de generosidade do escritor é, antes de tudo, um protesto às editoras nacionais que se apropriam do maior percentual dos exemplares vendidos. Manoel, servidor aposentado do Tribunal de Justiça, nunca deixou o exercício da escrita e isso o diferencia dos outros senhores de cabeça branca que cruzam por ele nas trilhas da caminhada matinal. Cercado por uma legião de personagens imaginários troca com eles inesgotáveis diálogos. Para o mundo, caminha pelo parque um homem solitário, um homem de poucas palavras. Na verdade, um escritor nunca está só. Na verdade, um escritor tem a divindade nos dedos ao criar pessoas, escrever estórias e decidir destinos. Seu Manoel, o Jovem Senhor Contador de Histórias, já não é tão desconhecido assim. Por certo, salvou o sonho ao aproximar livros e leitores. Ele pede a todos que ganharem um exemplar que o leia, divulgue, empreste, doe para que outros leitores conheçam as aventuras inusitadas de um menino que nunca jogou vídeo-game. O livro está em sua segunda edição. Eu telefonei e ganhei um, e digo que tem tudo para ser um best-seller. Contato com o escritor? 8404-9,,,. Só para quem gosta de ler.
Luisa Ataíde
Da Antologia- Prêmio Literário Rachel de Queiróz 2008
Fotografia: Casa da Cora Coralina, Goiás Velho.

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