LUIZ MARTINS DA SILVA
Do jeito que a vida gosta,
Nem sempre gostamos nós,
Mas nós gostamos da vida,
Mesmo desatando nós.
Do jeito que quer a vida
É sina por se cumprir,
Mas a própria vida ensina
Só vai quem sabe aonde ir.
De nada a rosa dos ventos
Vale se não se tem o Norte;
Muda o rumo fica a sorte,
Talismã de marinheiro.
A vida parece o tempo
E o tempo perece a vida,
Mas aparências enganam
Sobre o tamanho da lida.
Uns, chegam e já vão embora,
Mal a infância acordou.
Outros, a rosa murcham
De tanto que demorou.
Mas a semente é a mesma
E a colheita também.
E como a safra é sortida
Quando se quer muito e bem.
Querer bem são só três letras,
Mas duplo sentido a palavra:
Escrever o bem com minúscula
É só o lado chão da parábola.
Querer o Bem com maiúscula
É amar no incondicional;
É o que importa mesmo quando
Chuva pouca e frio igual.
Um dia na vida a mais,
Ou mais um ano na vida,
O lado que diminui
Perdura para onde vai.
O lado que o vento sopra
No catavento é o outro.
É só uma questão de medida,
Medir-se a vida nas horas.
Vida e sorte, dois ponteiros,
Visível é só o que gira;
O visível ao olho atento
Mostra o relógio por dentro.
Bem sabe o Senhor do tempo,
Quando nos sonha e acalanta,
Que o que parece partícula
É o bem que o Bem empresta.
Há que se prestar atenção,
Quando o tempo vira Signo,
Quando menos, Sim é Não;
Quando mais, pão é o trigo.