Se você quando jovem
teve a sorte de viver em Paris,
então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida,
onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante.
então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida,
onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante.
Ernesto Hemingway , do
livro Paris é uma festa
Os Plátanos outonais que forram as praças que cercam a Champs Élysées nas manhãs de setembro são um tapete de folhas siennas que estalam sob os pés. Em que cidade as praças são douradas e as cúpulas e portões das catedrais nos gritam uma realeza que conhecemos apenas dos contos de Grimm. Estamos em Paris, a babel turística do mundo. Como distinguir um cidadão parisiense que vai para o trabalho, nos milhares de casacos escuros e botas de salto fino. Para nós, brasileiros em férias, eles representam a elegância de ser. Para eles, talvez leiamos a sorte por algumas moedas, talvez esbanjemos ouro. Na verdade somos a essência da mistura. Nem brancos nem negros, nem ricos nem pobres, e dizem que estamos na contramão econômica do mundo. Não que tenhamos tesouros, na verdade nosso grande segredo é o riso. O ruidoso riso de grupos de pessoas misturados à discrição e polidez de uma cidade. Senti isto, no trem que nos levava a Versalhes. Um grupo de músicos, não sei a nacionalidade, tocava instrumentos de sopro e corda, o que alegrava a viagem. Há quanto tempo eu não ouvia:
Ai, ai, ai.. ai.... está chegando a hora... o dia já vem raiando meu bem eu tenho que ir embora...
Cantamos
como um grupo colegial em férias. Provavelmente, pensei, enquanto o trem
avançava: no Brasil, conhecemos a versão em português do folclore do mundo. Na verdade,
descobri depois que esta alegria melodiosa que dava a viagem um ritmo de infância
festiva vem do México. Concluí na minha lógica latina que além das moedas ao
chapéu estendido, poderíamos em agradecimento sorrir. De muitos passageiros do
trem, os músicos não receberam uma moeda, um sorriso, um olhar.
Volto minhas recordações a esses dias em Paris. Nós nunca esqueceremos os
jardins perfeitos em delicadeza e cores. O Grand e o Petit Palais, os corredores
majestosos do Louvre. Nós nunca esqueceremos a elegância dos franceses e nossa
estupefação à moça que pega o dinheiro e com a mesma mão escolhe o pão que nos
entrega, sem lavá-las, sem a proteção de um guardanapo. Nós nunca esqueceremos
as lojas cheias e os perfumes esplendorosos. O torcer do nariz quando eles
percebem que você fala francês com sotaque e a delícia que é jantar queijo e
vinho na terra de Luis XV.
Estima-se que quinhentos mil brasileiros visitem Paris todos os anos. Por
semanas deixamos nossas vidas e atravessamos o oceano. Oxalá, a
nossa simpatia e alegria contaminem as ruas históricas da capital turística do
mundo. Que possamos compartilhar o que aprendemos nesses quinhentos anos de
existência: superar as adversidades, e como dizemos aqui: não desistir
nunca. Ensinar e aprender fundem-se em compartilhar. Eis o verbo que resume a
sabedoria da modernidade.
Luísa Ataíde
Luísa Ataíde