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terça-feira, 29 de novembro de 2011
SONETO DA DESILUSÃO
Osmar Aguiar
Na vitrola, o vinil gira empenado
Conduzindo a agulha de diamante
Que arranha num tom desafinado
A cantiga de um amor tão dissonante.
O ruído rouco da rabeca apavora
O peito já desprovido de harmonia
Ecoando o sentimento que outrora
Rimava e ritmava em melodia.
Não posso eu cantar outro refrão
Se já não tenho nenhum repertório
que me torne um grande regente
para transformar esse amor ilusório
em uma ária de tom eloquente
sem medo e nem desilusão.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
LUIS DE CAMÕES
"Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê."
domingo, 13 de novembro de 2011
AMOR E TEMOR
"O perfeito amor lança fora o temor". (I JOÃO, 4:18.)
LUIZ MARTINS DA SILVA
Com pigmentos de candura me tinjas neste Dia,
De adornar minha nudez diante do Eterno.
Por que temer feito o cordeirinho de uma fábula,
Acaso não terei direito a mãe na hora do Juízo?
Que imagens me sagrarão perante o crivo do Divino,
Carrasco desde sempre, de rigor emoldurado?
Solene, severo, sentado no trono das degolas:
Aguarda-me um Deus algoz brandindo a sua espada.
Oh! Quantos filhos! Cabeças e sentenças!
Na ala dos diletos, ternura e compaixão;
Aos arredios da doutrina, castigo e padecimento.
Quanta vida dissipada! Agora, arrependimento!
Mas, eis que Ele me unge com as suas asas de bálsamo
E beija a minha face aspirando aromas de inocência.
sábado, 12 de novembro de 2011
CHICO XAVIER
A gente pode morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos,
e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos,
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...
TUDO BEM!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos,
namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos,
e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
ROSÂNGELA ATAIDE
O TEMPO
sou de mar
feito nostalgia,
deságuo em marés
minha melancolia.
aplumo
nas asas do tempo
a liberdade que me guia.
sou de vento
e ao léu estou à tempo
no caminho
numa canoa
que se lança
ao mundo neste espaço
marinho
vôo longe
onde há fleuma
e alegria
sábado, 5 de novembro de 2011
DESPEDIDAS
LUIZ MARTINS DA SILVA
Custam-me as antevésperas das partidas,
tanto me constrangem na espera
as horas do sem fazer.
Adianto ânsias de embarques,
embargo-me em saudades que até sinto,
mas que de verdade ainda estão por vir.
- E então, quando vais?
- É pra já. É só um bocadinho.
Ter que dizer adeus é como estar presente ao próprio funeral.
E não fica bem a quem já se sabe longe
estar a comprar jornais,
bisbilhotar miudezas em tabacarias,
dobrar esquinas,
encontrar conhecidos:
-- Não fostes, ainda?!
Incômoda ambigüidade esta,
de estar sem já não ser.
Uma vez anunciado,
é-se obrigado a partir,
ainda que os pés se entortem para trás,
ainda que possas virar estátua de sal.
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