LUIZ MARTINS DA SILVA
Custam-me as antevésperas das partidas,
tanto me constrangem na espera
as horas do sem fazer.
Adianto ânsias de embarques,
embargo-me em saudades que até sinto,
mas que de verdade ainda estão por vir.
- E então, quando vais?
- É pra já. É só um bocadinho.
Ter que dizer adeus é como estar presente ao próprio funeral.
E não fica bem a quem já se sabe longe
estar a comprar jornais,
bisbilhotar miudezas em tabacarias,
dobrar esquinas,
encontrar conhecidos:
-- Não fostes, ainda?!
Incômoda ambigüidade esta,
de estar sem já não ser.
Uma vez anunciado,
é-se obrigado a partir,
ainda que os pés se entortem para trás,
ainda que possas virar estátua de sal.
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