FERNANDO HENRIQUE DE PASSOS
A David Cronenberg e William S. Bouroughs
Há um mundo de sombras por detrás da estante.
Quero desvendá-lo.
Vibram as paredes animadas- som penetrante
Em que me embalo.
Um macaco azul de pênis vermelho
Cospe-me na testa.
Oiço um escaravelho:
"Hoje há uma festa".
Penumbra sem horas nem minutos:
A minha sombra esguia no soalho
Contorce-se em espasmos absolutos;
Eu estou imóvel; a lamparina arrefece-me o trabalho.
Símbolos caídos no cesto dos papéis:
Devo escrever mais.
Vejo autoestradas onde correm corcéis
Que me forram o peito de jornais.
Um copo de água sobre a mesa:
Cintilação de estrelas mortas:
Uma lua acesa
no estreito quarto de sete portas.
Os sete monstros passam a fronteira:
Estão deste lado.
Falam comigo da manteigueira;
Sou avisado.
Só quando toca a campainha
É que desperto do pesadelo:
a luz é minha.
(Mas o outro mundo, como esquecê-lo?)