Às vezes, acordo no meio da noite e vou à varanda.
Posso ver o vulto do porteiro tentando equilibrar o sono sobre a
cadeira
cadeira
Enquanto olha a rua e os bancos vazios da praça.
Pergunto , então, porque a vida lhe fez sentinela
enquanto dormimos.
Do outro lado da cidade, uma mulher acorda com o choro de
criança
criança
e olha o travesseiro vazio ao lado.
Posso ouvir o choro e ver os cabelos revoltos da mulher.
Um carro chega e ele abre o portão de ferro.
Volta ao silêncio da madrugada depois das rodas do carro.
A mudez da noite senta-se ao lado do homem.
Da varanda observo o balanço que retoma em frente a mesa.
Nós não merecemos o sono que ele empurra quando estica os olhos
e lembra-se que não há dinheiro para a conta de luz que tem no
bolso da camisa.
Nós não merecemos esta ausência de amante e pai do outro lado da
cidade.
cidade.
O que fez para merecer um destino desbotado e triste
de ser porteiro noturno de um prédio em Águas Claras?
O que fiz para perder o sono ?
O que fez o cão que passa sujo e faminto no meio da rua diante da
varanda?
varanda?
O que faço da minha incapacidade de presenteá-lo com esta
repentina insônia.
repentina insônia.
Acho que vou lá embaixo dar um banho no cão.
Luisa Ataide
2 comentários:
acho que vou ler e escrever e abraçar todos os homens do mundo, mesmo que estejam sujos e tristes.
grande abraço
jorge
antes até
um banho em nós mesmos...
e os edifícios cumprem um bom papel como postos de observação noturna, especialmente para nós, meros insones.
abraço!
rodrigo.
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