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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

OS GIRASSÓIS AZUIS- conto


É preciso ter o caos dentro de si para dar à luz uma estrela”

                                                                                                                    Nietzsche
 


Da varanda do quarto vê-se uma pequena árvore sem galhos que nas madrugadas produz frutos. A claridade noturna sobre o fruto umedecido, que lentamente tomba em direção à proteção de cimento, age sonoramente. É inevitável acordar. Os primeiros anos eu achava tratar-se de um pé de damasco, esturricado e sobrevivendo cada dia um pouco. Todas as casas da vila são brancas e possuem jardins. Uns plantam rosas, outros margaridas, alguns deixam a grama estender-se como uma extensa cama verde. Recebi a casa com os girassóis ao fundo. Lembro-me da primeira vez que vi a luz do sol  alargando-se sobre as pétalas abertas ao vento. O perfume inundava toda a casa. Imaginei que ali cresceriam os doze filhos que eu pretendia ter. Paulo, Pedro, João, Marcos... todos os apóstolos que o Criador quisesse me confiar correriam entre os canteiros dourados. O jardineiro estava parado junto ao portão e esperava a resposta se eu ia querer seus serviços. Respondi a sua indagação com uma pergunta :


                                                - Eles sempre brilham assim?

O homem olhou para o campo amarelo como se  visse tudo pela primeira vez.
                                                - Os donos da casa foram embora por causa dos girassóis azuis.
                                                - Ahn...

Não quis alongar a conversa e disse não ter interesse nos serviços do jardineiro. Ter um estranho mexendo nos canteiros era totalmente desconfortante. Instruída com manuais de jardinagem, avental e ferramentas que eu nem sabia o nome resolvi cuidar do pequeno quintal. Só percebi a árvore seca na varanda muitos meses depois.
 Às tardes, sento-me no pequeno banco diante do jardim da casa e inevitavelmente lembro-me desta primeira manhã diante do oceano de pétalas. Havia um cavalo grande no fundo do quintal, que se espantou com a minha chegada e correu em direção à mata que contornava as casas da vila. Foi tempo suficiente para ver o rabo de e ouvir o trotar das patas sobre as pedras que completam a trilha à saída do terreno.

                                              - Que belo cavalo, a quem pertence?

O homem olhou para todas as direções e informou não ver animal algum. Foi quando  perguntei sobre o brilho das folhas amarelas. A partir daí chamei secretamente de Encantado o animal de crina e rabo farto. Histórias sobre a casa número um da vila ouvi muitas, durante toda a vida. Que o antigo dono corria as madrugadas entre os canteiros tentando evitar que as pétalas mudassem de cor. Fadado a missão de não deixar que o cavalo comesse as folhas amarelas, pois uma vez sem pétalas as novas folhas, segundo ele, nasceriam azuladas   - corria de um lado ao outro. Sempre que as noites de lua visitavam as casas da vila, o pobre homem sentava no meio do campo florido e chorava copiosamente. Restou, alguns anos depois, levado pela ambulância da cidade, amarrado e aos gritos. A família, em alguns meses, resolveu vender a casa.


No terceiro ano vivendo ali, recebi a notícia da chegada do menino. A espera foi curta pois a notícia, da semana seguinte, foi que ele não mais chegaria. Passei alguns meses sem cuidar do jardim, e entreguei-me a desilusão da orfandade de filhos. Estavam suspensos todos os projetos de pegadas pequenas entre os canteiros amarelos. A parede da sala de jantar é de vidro e pode-se ver o vento balançando as pétalas grandes. Eu segurava ainda a xícara de leite quente entre os dedos quando ouvi o barulho. Era o ruído abafado de um trotar forte vindo de fora, sim era um ruído. Atravessei a porta aos saltos e senti apenas o vento sereno sobre as flores. Tombavam lentamente: caule, folha e pétalas amarelas. Nenhum sinal do bicho.

Sentei-me nos degraus da varanda e percebi que era o chamado de volta à vida. Contudo algo mais me chamara e não  apenas o ruído do que não vira. Sentei-me no segundo degrau da varanda e olhei o que era uma grande bandeira dourada dançando em direção à mata. Senti alguém puxar a ponta do vestido. Era um menino pequeno, minúsculo como um menino polegar. Apontava as aves voando depois da mata. Sorria. Tinha o cabelo  liso e a pele morena. Passei a conviver com o menino algumas horas do dia. Tiago, chamei-o  assim - pertencia ao mundo do que poderia ser. Algo dentro de mim avisava todo o tempo que só eu o via. O menino não falava nunca, embora aparentasse quase quatro anos de idade, comunicava-se por gestos. Um dia,  dei-lhe uma caixa de lápis coloridos para que desenhasse -  apontei-lhe o jardim. Ele ignorou todas as cores: era um jardim, azul, branco e alguns tons de violeta. Tomei-lhe das mãos o desenho e senti uma pequena pressão do lado direito do ouvido.
Anos depois os outros três meninos chegaram a casa. Continuei conversando com o pequeno Tiago diante do jardim quase todas as manhãs. Oito apóstolos deixaram de bater à porta nos anos seguintes. Tive sempre a impressão de vê-los enfileirados, acenando-me em direção à mata. Essa visão franciscana me acompanha sempre antes do sono. Mas, foi dado mais do que o previsto. Contrariando todas as previsões médicas três crianças estavam do lado de dentro da casa. O polegarzinho, ainda, dormia em algum ponto do jardim. Quando os meninos partiam, pela manhã, com mochilas transbordando livros, em direção à escola, ele corria entre os corredores dos quartos. Com o tempo passei a não comunicar aos membros da casa que o menino ainda habitava entre nós. Sossegaram medicamentos, terapias, sobrancelhas arqueadas e risos. Eu estava de volta a pia de louça suja como todas as mulheres da vila. Não há nada mais real e saudável do que uma casa por limpar. Ninguém nunca, contudo, tentou explicar o pé de damasco sem folhas, na varanda do quarto, que produz frutos todos os meses do ano: um único. Um após outro, carnudo e doce.

 Luísa Ataíde
óleo sobre tela- O Encantado (L.A )

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O SEMEADOR DE ESTRELAS

Existem momentos em nossa vida que por mais que queiramos não conseguimos enxergar o óbvio.

O Semeador de Estrelas é uma estátua localizada em Kaunas, Lituânia.

Durante o dia passa despercebida.


Mas quando a noite chega, a estátua justifica seu nome...



Gentilmente enviado por Jaciara Bezerra

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

HELENA SEM VÉU


"Vida limpa, mente aberta, coração puro, intelecto ardente, clara percepção espiritual, afeto fraternal para com todos os seres, presteza para dar e receber conselho e instrução, leal senso de dever para com o instrutor, pronta obediência aos preceitos da Verdade, corajoso suportar das injustiças pessoais, destemida declaração de princípios, valente defesa daqueles que são injustamente atacados e mira constante no ideal de progresso e perfeição humanos que a ciência secreta revela - eis a escada de ouro por cujos degraus pode o aspirante galgar até o Templo da Sabedoria Divina."

Sgundo os Mestres ,A Verdade sobre tudo que compõe o Universo é encontrada por discípulos certos, na hora apropriada - nem antes e nem depois. Falar de Helena Blavatsky é falar de rebeldia e audácia de tudo que refere-se aos ensinamentos ocultos, à Sabedoria inalcansável aos mortais comuns. Helena P. Blavatsky revolucionou o aprendizado do ocultismo e não satisfeita revelou os segredos ao mundo ,em seus livros,  numa época que os Iniciados consideravam ainda não estar a humanidade preparada  para tanto. Foi perseguida,  o que vez  sua biografia digna de enredo de  filme de ação: com direito a explosões, passagens secretas, enigmas e livros proibidos.
 Helena Petrovna Blavatsky  nasceu à meia-noite de 30 para 31 de julho de 1831, na Rússia. Sua história é repleta de fatos inusitados, pois a busca de conhecimento foi sem dúvida o lema primeiro de sua vida.  A sua família pertencia à classe dominante da Rússia,  sendo conhecida em toda a Europa. Helena contudo sempre rebelou-se aos princípios convencionais e criou os seus próprios princípios que viriam a revolucionar o mundo que a cercava. Helena tinha uma inata capacidade psíquica, demonstrava uma faculdade de comunicar-se com os habitantes de outras esferas ou mundos invisíveis e sutis.

Em 1851,  sob a orientação dos Mestres, aprendeu a controlar e dirigir as suas forças, participando, segundo ela mesma, de várias e extraordinárias experiências nos domínios da magia e do ocultismo. Foi para o Himalaia, estudou em mosteiros e com essa experiência escreveu o livro The Voice of Sitence (A Voz do Silêncio). Em 1873, viajou para os Estados Unidos. Publicou Isis Unveiled (Isis sem Véu), em 1877; e The Secret Doctrine (A Doutrina Secreta), em 1888, a sua mais importante obra. Ajudou a fundar a Sociedade Teosófica.  A instituição expandiu-se rapidamente por todo o mundo. A fase mais brilhante e produtiva de Helena Blavatsky foi a que se passou na Inglaterra entre os anos de 1887 e 1891. Suas idéias ganharam mais espaço a partir do século XX, onde ela apresenta uma nova visão da história, da origem do homem e do universo, da pluraridade dos mundos e dos estados da consciência. Ela passou aos planos superiores em 8 de maio de 1891.

"Há só uma passagem até ao Caminho; só chegando bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se um único vício que não abandonaste ainda sobrevive; porque então a escada se abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabará por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do ardiloso caçador, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma concreta e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz, como o riso e o soluço do chacal ecoam depois do sol se pôr; os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão consigo, como um escravo cativo."

" Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana, que cada fracasso é um triunfo, e cada tentativa sincera a seu tempo recebe o seu prêmio. As santas sementes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos mas não quebram, nem podem elas perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham."- A VOZ DO SILÊNCIO.

Nota: Mais  sobre a escritora em:  Helena Blavatsky 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

OS DIAS DO SENHOR



O veneno dos animais que se arrastam pela terra não os afastam de ser criaturas do Pai. A lama que forma-se pelas águas que deslizam sobre as casas , assim como as estações de extrema seca não tiram destes dias - serem Dias do Senhor. Os movimentos extremos da natureza, o veneno e a mordida dos animais são particulas do equilíbrio que necessitamos. Aceitemos o voo do pássaro e o arrastar da víbora, as tempestades e os dias de sol. São todos dádivas do Pai.

(sopro ao ouvido)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

VIOLETAS NA JANELA


Romance de PATRÍCIA

A janela estava aberta dando a visão bonita da parte direita do jardim. A janela tem um delicado beiral de madeira clara e nela estavam vários vasos de violetas. Vasos floridos, com violetas coloridas e lindas.Lembranças vieram-me à mente. Recordei dos vasos de violetas de minha mãe, que enfeitavam os vitrôs de nossa cozinha. Pareciam as mesmas.
—E são! — disse vovó — Anézia plasma com muito amor as violetas para voce. São réplicas das que enfeitam a cozinha do seu lar terreno.
—Vovó, como isto é possível? — indaguei admirada.
—Sua mãe muito lhe ama e tem muita saudade. Saudade esta que é um amor nãsatisfeito pela ausência do ser amado. Ela emana continuamente este amor e saudade porvocê. Ela não desejava ou esperava sua vinda. Está se esforçando para não prejudicá-la,assim ela canaliza seu carinho e oferta as flores a você. É uma maneira que ela encontrou para demonstrar seu amor. É uma oferta contínua. Com nossa pequena ajuda, de seus amigos aqui, estes fluidos foram e são condensados e aí estão: maravilhosas violetas.
—Vovó, por que a senhora diz meu lar terreno?
Você é amada. Cada coração que nos ama é como um lar a nos confortar. Poderia dizer ex-lar. Mas, par todos, ele será sempre seu. Não é a casa terrena na sua moradia física, mas um lar cheio de amor, onde é lembrada com alegria, é filha, irmã, tia e amiga e não a que foi.
Aproximei-me das violetas, sua emanação fortaleceu-me. Vieram com um recado:
“Patrícia, quero-a feliz! Amamo-la, amo-a! Não desanime, viva com alegria. Que estas violetas enfeitem onde você está, onde irá passar a maior parte do tempo”.
Aquelas florezinhas delicadas, coloridas saudavam-me.
Vovó me deixou sozinha.
Mamãe gosta muito de flores, cuida delas com carinho. Não poderia ter recebido melhor presente. Por alguns minutos fiquei a recordar acontecimentos, histórias dos vasos, dela plantando e regando as flores. De sua risada alegre, de seu carinho especial.
Senti-me fortalecer. Sorri contente. O amor forte e sincero de minha mãe acompanhava-me protegendo como sempre, dando-me coragem e alegria. Amor de mãe é como um farol a iluminar seus entes queridos e a perfumar suas existências. As violetas encantavam-me, não só enfeitariam a janela do meu quarto, mas a janela do mundo novo que defrontava a minha frente.
Violetas na janela...

Do livro- Viioletas Na Janela- Psicografia de Vera Lúcia  Marinzeck de Carvalho