dire

dire

domingo, 31 de janeiro de 2010

em M ovi men¬t o



DOMiNGOS sÃO rios de risos em sonhos
curvos, zonsos, fundos.


São cataVentos coloridos
vagos, inúteis, sURDOS.

dOMINgOS cheiram a maçã e missa
vagas lembranças de dias sem sol.

à TARDE, apontam o trilho ligeiro dos dias
Zunem versos roucos no ouvido

Abrem os riscos contínuos na estrada
distorcem o contorno das folha nas árvores.

SAL_ tam os muros secretos dos dias
Dos dias que chegam depois de amanhã.

Sunday, sundAY , CAdê você?

L.A

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Luzes e Caminhos


Luiz Martins da Silva

São tantas metáforas
Que se fazem aos caminhos,
Que andar nem é tino
É alegoria de mirar.

Caminho, camino, caminno,
Senda, sendero, chemin,
Caminito, trilha, vereda,
Serventia de andaluzes.

Lâmpada, lamparina, archote,
Lanterna, tocha, fósforo,
Única brasa que seja,
Quanto mais raio, corisco.

Lua, estrela, via láctea,
E ainda que seja a noite, nua,
Espesso breu dos navegantes
Faíscam pedras nos cascos os rocinantes.

E que aos mortos não se neguem lumes,
Pois morrer será a própria eterna treva.
Que se lhes acendam velas, candelabros,
Fileiras ardentes, vigílias de castiçais.

Mas, mais que todas as luzes acesas
São os olhos das musas os grandes sinais,
A nos guiar qual do sol as labaredas,
Pois facho maior que do amor não há farol.

Sobre o autor: Luiz Martins da Silva nasceu em Nova Russas (CE), em 03/09/1950. Em Brasília desde 1970; formado em Jornalismo e mestre em Comunicação pela UnB; doutor em Sociologia (UnB/Universidade Nova de Lisboa); jornalista desde 1975 (Jornal de Brasília, O Globo e Veja, entre outros). Professor da Faculdade de Comunicação da UnB, desde 1988; e pesquisador do CNPq, desde 1996. Participação, entre outras, da antologia Poesia Jovem – Anos 70. Integrou a Geração Marginal.
Bibliografia: Rua de Mim; Comigo Foi Assim; Brasilinhas; Breviários; e Realejo. Foi um dos organizadores da antologia de poesia Águas Emendadas (1977). Autor de vários livros e trabalhos acadêmicos na área de Comunicação.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A ETERNIDADE


de Arthur Rimbaud


De novo me invade.
Quem?
A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem?
A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
Tradução: Augusto de Campos

Gentilmente enviado por Osmar Oliveira Aguiar

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ABISMO DE ROSAS







Américo Jacomino, o Canhoto, compositor e instrumentista, nasceu em 1889 . Brasileiro, filho de imigrantes napolitanos, nunca freqüentou escola. Desde garoto interessou-se por violão, que tocava, mesmo sem inverter as cordas, na posição de canhoto, o que deu origem a seu nome artístico. Aos 16 anos começou sozinho a aprender cavaquinho, época em que já tocava em serenatas.

Em 1907, durante uma serenata no bairro da Mooca, conheceu o cantor Paraguaçú, com quem começou a apresentar-se em cinemas, circos e restaurantes.
Em 1913, já conhecido na capital paulista como bom violonista, gravou pela primeira vez, na Odeon, na série 120.000, a valsa Belo Horizonte, a polca Pisando na mala. Compôs aos dezesseis anos Abismo de Rosas, clássico do violão brasileiro.
Já em 1916 gravou suas valsas Beijos e lágrimas e Acordes do violão, primeiro título de Abismo de rosas.
Gravou em 1918 os tangos Madrugando e Recordações de Cotinha. Na época da Primeira Guerra Mundial, compôs a Marcha triunfal brasileira .

Em 1919, foi convidado, a formar um trio com Viterbo Azevedoe Abigail, uma menina , para apresentações teatrais, em que Viterbo encarnaria o Jeca Tatu, famoso personagem de Monteiro Lobato.No mesmo ano o Trio Viterbo-Abigail-Canhoto estreou em São Paulo e em seguida excursionou por cidades do interior . Em dezembro foi para o Rio de Janeiro, dando um recital de violão no Teatro Lírico.

Inicia em 1920 a produção de músicas carnavalescas, embora continuasse a compor outros gêneros. Lançou, para o Carnaval daquele ano, Ai, Balbina e no ano seguinte Já se acabô (ambas com Arlindo Leal). Logo depois instala-se em S.Paulo, onde abriu loja de instrumentos musicais. Foi um dos pioneiros, ao lado de Paraguaçu, da Rádio Educadora Paulista, primeira emissora do Estado.
Em 1922 gravou a Marcha triunfal brasileira e regravou Abismo de rosas. Um ano depois gravou como cantor a Marcha dos marinheiros e no ano seguinte o samba Só na Bahia é que tem (ambos de sua autoria).
No ano de 1927, no Rio de Janeiro, participou do concurso O que é Nosso, patrocinado pelo jornal Correio da Manhã e realizado no Teatro Lírico, quando executou três músicas de sua autoria, a Marcha triunfal brasileira, Viola Minha Viola e Abismo de Rosas, vencendo o concurso e recebendo o título de Rei do Violão Brasileiro.
Em março de 1928 retornou ao Rio de Janeiro, gravando algumas de suas composições em solos de violão e cavaquinho, adoece e é levado de volta a São Paulo , onde vem a falecer.
Pesquisa: André A.

sábado, 9 de janeiro de 2010

JIDDU KRISHNAMURTI




" A verdade é uma terra sem caminho. Os homens dela não se podem aproximar por qualquer organização, por qualquer credo, por qualquer dogma, sacerdote, ou ritual, nem por qualquer conhecimento filosófico ou técnica psicológica. Ele, o homem, tem de encontrar a verdade através do espelho das relações, através do percebimento do conteúdo da sua própria psique, pela observação, e não por qualquer dissecação intelecutal e analítica."

Jiddu Krishnamurti


Filósofo e educador indiano ( 1895-1986)



Jiddu Krsinamurti nasceu no sul da Índia em 1895. Ainda menino, foi " descoberto" pelo clarividente Charles Webster Leadbeater como a pessoa que tinha a aura mais pura jamais vista por ele em um ser humano. Adotado por líderes da Sociedade Teosófica da época e apresentado ao mundo como o novo instrutor espiritual da humanidade, dissolveu a organização que fora criada em torno de si, que reunia aqueles que acreditavam na vinda do novo messias, devolvendo ricas propriedades que lhe haviam sido doadas, sustentando que não pretendia criar uma nova igreja, mas que seu trabalho era o de ajudar a tornar os homens incondicionalmente livres.

Ao longo de toda a sua vida, até seu falecimento em 1986, Krishnamurti viajou por diversas partes do mundo, tratando de temas de vital interessse para a vida de cada ser humano, questionando profundamente a estrutora de pensamento, do "eu" e dos condicionamentos enraizados em nossas próprias mentes.

Fonte: Centro De Estudos Krishnamurti - Brazlândia, DF, Brasil.


VIAGEM CÓSMICA



ESTRELAS DUPLAS
“Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação
Não tem explicação,
Não tem, explicação, não tem, não tem.”
- O SEGUNDO SOL - NANDO REIS


A aglomeração de estrelas formada pela grande nebulosa a Via-Láctea possui vários sóis. Entre esses diversos sóis, a maioria é como o nosso, cercada de mundos secundários, que iluminam e fecundam. Uns, como Sírius, são milhares de vezes mais magníficos, em dimensões e riquezas, do que o nosso, cumprindo assim um papel mais importante no Universo . Também os planetas , em maior número, são muito superiores aos nossos. É assim que um certo número desses sóis, é acompanhado de seus gêmeos da mesma idade e formam no espaço os Sistemas Binários. São as estrelas duplas. Ali os anos não mais se medem pelo mesmo período, nem os dias pelos mesmos sóis, e esses mundos iluminados por uma dupla luz receberam condições de existência inimagináveis pela maioria de nós que nunca saímos do pequeno mundo terrestre. Os efeitos prodigiosos de luz produzidos pelos dois sóis para os habitantes desses mundos , apesar da proximidade aparente , permitem a circulação entre eles, e ainda receberem alternadamente ondas de luz diversamente coloridas, cuja reunião recompõe a luz branca.

Zarias atravessou a ponte entre sua casa e a entrada principal da cidade , onde passava o maior período da manhã. Deu alguns passos e entrou no círculo claro. Neste ponto sempre caminhava com mais cuidado, pois a visibilidade era como de estrada em nevoeiro. Alguns passos e bateu o ombro em alguém que caminhava em sua direção.

_ Desculpe aí amigo!, disse o estranho.

Zarias parou por uns segundos e olhou o desconhecido. Subitamente observou que há anos não ouvia uma comunicação verbal e não decifrou em princípio o dialeto. O estranho continuou:

_ Por favor você poderia me mostrar a saída? Acho que eu me perdi.

Zarias sabia que conhecia a linguagem e estava diante de uma situação inusitada, dessas que acontecem a cada dez mil anos. Lembrou-se das lições de quando era criança, dos inúmeros idiomas e dialetos verbais que aprendera. Era hora de utilizá-lo.

- É..., um.. hã... Muito prazer, meu nome é Zairas eu vou ajudá-lo.

-Você pode me dizer porque raios, eu não estou enxergando nada, acho que bati a cabeça.

_ Eu também, não estou enxergando muito , saí de casa sem o devido preparo. Mas não se preocupe, siga-me . A ponte não é muito grande, logo estaremos do outro lado.

Quando chegaram do outro lado, o estrangeiro olhou tudo a sua volta, não acreditando no que via. O Céu tinha uma tonalidade rósea e em alguns pontos cintilavam corpos aqui e ali. Não eram estrelas, flutuavam no ar, sumiam e apareciam continuamente. Ou seriam ?

- Vem cá, amigo isto aqui é algum planetário. Olha faz tempo que eu não vou num...

- Não, este é um dos céus de Sirius.

_ E aquilo ali, parecem... dois sóis?

- São dois sóis. Acho que você caiu aqui por engano.

_ E você que dizer que eu estou em outro...

_ Você está em outro mundo. Não sei como veio parar aqui , mas com certeza sua estada não deve durar muito tempo . Na sua contagem penso que alguns minutos.

_ É... acho que eu estou dormindo e devo acordar em alguns minutos ..., bem já que estou por aqui que tal você me mostrar tudo então . ... Eu não disse meu nome. Meu nome é Zacarias.

- Seja bem-vindo Zacarias, mas... estou desconfiado de alguma coisa... Eu já vi contar sobre acontecimentos como estes. Veja... estenda seu braço à frente.

O estrangeiro esticou o braço e foi como atravessar uma cortina invisível. Sentiu a umidade do ar e a vibração sobre a mão. Viu um ponto de luz formando-se entre os dedos e puxou a mão rápido.

- Agora vire -se de costa, de onde você veio, e tente esticar a mão. O estranho obedeceu e encontrou resistência.

_ É vidro?

- É como se fosse; só que não se quebra , disse o dono da casa.

- Observe quando eu estico o meu braço, continuou. Atravessou com metade do braço a parede não visível.

- Observe, disse ainda, que eu não consigo atravessar a parede a sua frente, como você fez.

- Você quer dizer que estamos presos aqui sobre esta ponte.

- Não, eu quero dizer que você segue em frente e eu sigo em direção contrária.

- Cara, você quer dizer que eu vou pro seu planeta e você segue pro meu?

_ Parece que sim.

- Isto quer dizer que se isso não for um sonho, nós não voltamos para nossas casas?

- Com certeza..

- Eu vou te dizer uma coisa seu Zairas, só olhando o espetáculo no céu eu vou te dizer que seu planeta é fantástico.

- O seu, pelo que eu estudei, é belíssimo.

- E como eu vou me comunicar. Todo mundo fala a minha língua como o senhor?

_ Os que não sabem se esforçam. Vou lhe adiantar que o senhor terá muito o que estudar.

- Eu vou lhe adiantar também que as coisas por lá, aonde o senhor vai, são complicadas. Mas eu acho que o senhor se sairá bem.

- Faz tempo que recebi umas aulas sobre esse tipo de viagem. Vou procurar me lembrar durante o caminho. Boa sorte, Sr. Zacarias. Acho que o Senhor será feliz enquanto estiver por aqui.

_ Quer dizer que ainda vamos nos reencontrar?

_ Daqui a um tempo..

- Eu deveria alertar o Senhor Seu Zairas, mas acho que o Senhor saberá fazer as melhores escolha. Dê aqui um abraço.
Em pé sobre o fim da ponte , sob os sóis de um dos planetas da nebulosa, dois homens se despediam. O caminho à frente do desconhecido foi alargando-se e plantações de girassóis eram vistas ladeando a trilha. Ora ele tocava a parede à esquerda da trilha , ora à direita. A textura era de bolha de sabão, mas não se rompia. O desconhecido deu alguns passos e o imenso jardim de girassóis abriu-se a sua frente , não mais havia paredes laterais. Os sois sobre os girassóis criavam uma linha sinuosa lhe indicando a passagem. Zairas olhou o homem por algum tempo ir sumindo na curva luminosa. Inspirou fundo e não teve medo.
"Inspirado no capítulo - Uranografia Geral- do Livro A Gênese- Allan Kardec"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A FLORESTA DOS ESQUECIDOS


Texto de Mauro D. Spinato


No extremo sul do Brasil existe uma terra de planícies sem fim, onde é possível andar dias sem encontrar uma viva alma. Os fazendeiros dessa região, não raro, desconhecem os limites de suas propriedades, tal é a imensidão daqueles desertos verdes
Pela posição da lua minguante e das estrelas, Taurino deduzia passar duas ou três horas da meia noite. Estava caminhando a mais de doze horas, tendo visto o último ser vivo pela meia tarde. Trabalhador de estâncias, domador de potros ariscos, não tinha paradeiro certo. Andava de fazenda em fazenda pleiteando serviço, pouso e comida. Acostumou-se atravessar as planícies de madrugada, quando a temperatura era mais amena. Os olhos estavam treinados na escuridão e mesmo em noites sem lua apenas a presença das estrelas garantia a luminosidade mínima para Taurino. Ao longe, numa depressão que imitava um pequeno vale, os olhos de Taurino vislumbraram uma tímida luminosidade. Parecia uma estrela caída na terra. Imaginando tratar-se de uma casa, dirigiu-se ao local. Um repouso àquela hora seria bem-vindo. No entanto, aproximando-se, constatou que a luz não provinha de uma lâmpada. Era branca, muito forte, mas não agredia os olhos. Vinha de um objeto, que ainda não conseguia definir a forma, cravado no solo. À medida que se aproximava sentia o terreno irregular transformando-se num tapete macio, coberto por uma espécie de musgo verde e aveludado. Taurino já estava próximo, mais ou menos uns vinte metros, mas ainda não conseguia definir o objeto de onde emanava tal luminosidade. Entre ele e o objeto havia uma pequena e estranha floresta de troncos disformes totalmente cobertos com o mesmo tapete verde que pisava. A direção contraria da luz transformava-os em criaturas fantasmagóricas, escuras e desesperadas. Taurino, que não era de sentir medo, sentiu um arrepio subir a espinha. Desviando, um a um, os fantasmas negros, finalmente conseguiu visualizar o local de onde vinha a estranha luz. Um grande disco, que na compreensão de Taurino devia ser de vidro ou cristal, aparecia pela metade emanando uma energia branca e leitosa, quase palpável. Nos muitos anos de vida, já havia visto muita coisa e escutado muitos “causos” mas nenhum era parecido com isto. – “ Será que isso são os tais marcianos?” - Depois de um momento de perplexidade, tomou coragem e tentou se aproximar, porém não conseguiu se mover. Espantado, Taurino viu seus pés cobertos pelo musgo verde e agora, brilhante. Por mais força que fizesse, não conseguiu mover um milímetro sequer. A massa verde subia silenciosa, alcançando os tornozelos. Ele sentiu seus ossos sendo penetrados e a vida e a sensibilidade que existia neles esvaindo-se rapidamente. O pânico tomou conta de Taurino; começou debater-se, urrar, gritar desesperado, sentindo sua vida petrificar-se centímetro a centímetro. Num último estertor olhou para trás e reconheceu na floresta de troncos outros que por ali passaram e ali ficaram, esquecidos. Outros que não tinham nada e nem ninguém para sentir-lhes a falta.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O QUARTO REI MAGO




Luiz Martins da Silva


Tanto se atrasou pelo caminho,
Perdeu da estrela o rumo
Era o Quarto Rei Mago.
Quando enfim, achou, o menino
Já era o Homem, na Cruz.

Pediu perdão a Jesus,
Pelo atraso e única pérola
Restante de tanto empenho
Pelos coxos e mendigos
Que socorreu pelo caminho.

Do Rei dos Judeus, no lenho,
Caída a última lágrima,
Cristal feito agradecimento:
“Em verdade me encontraste
E encontras a todo momento,

Quando amparas um irmão pobre
Ou a um desvalido ao relento.
Lá estarei, estrela-guia,
Do Mago o gesto mais nobre,
Aquele que me dá alegria”.