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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia dos Vivos




De longe observo as palavras. Elas estão a poucos sentidos da mão, e ainda não me pertencem. Eu sei que a história toda está pronta e quase a alcanço. A marca d’água , para  os que escrevem, é uma realidade sombreada de cotidiano . Lá, nossas mãos são feitas de vidro e a voz é distorcida em notas que sobem e descem infinitamente como uma melodia desafinada. O corpo se alonga como a imagem  num jogo de espelhos, se retrai e se achata no instante seguinte. Lá não temos lembranças e marchamos obedientes  às manhãs úmidas e brancas. Lembro-me  de minha mãe e seu imenso amor pelos miseráveis do mundo. Lembro-me de todas as histórias de bruxas e princesas que contei nas distantes noites de infância , quando eu era o centro do círculo e minha voz soprava aos ouvidos atentos. Eu ainda não dominava o lápis mas tinha a propriedade da narrativa. A história, sinto muito, era minha. Sempre deixei mais tempo sob os refletores:  a Bruxa. Se vivi no tempo da  inquisição, fui arremessada a um precipício fundo e minha  saia escura se inflou ao vento antes do baque surdo  - tudo por que eu imaginava. Daquele tempo até chegar aqui assombrei  Bibliotecas Publicas,  nas madrugadas, quando os leitores e os guardas deixavam as salas vazias.  Um dia ,  um Anjo-Traça disse: Vá lá fora, o temporal passou . Há um dia dedicado aos mortos e às bruxas.   Ele contudo, esqueceu de falar sobre os dias em caixa fechada: os  presentes- surpresa .Um brinde aos vivos e a  todas as meninas que inventam histórias coloridas.
Viva o dia da Vida e  das bruxas com alma de princesa
L.A

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

NA FLORESTA DO ALHEAMENTO



FERNANDO PESSOA

Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê...
Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho. (...)

domingo, 24 de outubro de 2010

OS ESTADOS DE CONSCIÊNCIA


PIERRE WEIL

São principalmente quatro os  estados de consciência estudados e comparados entre si, a saber: o estado de consciência de vigília, o estado de consciência de sonho, o estado de sono profundo sem sonho e o estado de superconsciência ou estado transpessoal propriamente dito.

O estado de vigília é o estado de consciência corriqueiro no qual nós estamos na vida cotidiana. As pessoas que estão neste estado dificilmente são sujeitas a fenômenos paranormais, pois nele predominam o raciocínio lógico, a imaginação, os sentimentos, as emoções e as sensações. Nele a respiração, o pulso e as ondas eletroencefalográficas estão dentro da normalidade.

O estado de sonho é um estado em que a consciência está cortada do mundo físico, pois está cortada das senções do corpo físico. Nele só funcionam a imaginação e as emoções. Neste estado, a respiração e o ritimo cardíaco variam confome o estado emocional, mas a tendência é uma diminuição do ritimo inclusive do eletroencefalograma que emite ondas alfa e teta. È neste estado que surgem a maioria dos fenômenos paranormais, chamados de PSI.

Estes fenômenos começam a se manifestar em estado de relaxamento profundo, quando aparecem as ondas alfa, com o ritmo respiratório e card[iaco bastante lentos. O estado de relaxamento é um estado intermediário entre o estado de vigília e o estado de sonho.

No estado de sono profundo, todos os ritmos fisiológicos acima citados são extremamentes lentos, sendo que o eletroencefalógrafp assomça pmdas teta e delta. Neste estado não há mais fenônemos paranormais aparentes, mas tudo indica que nele a consciência está em relação com o que os tibetanos chamam de Clara Luz,  ou Luz do Espírito.

No estado de superconsciência ou estado transpessoal, há uma plena consciência que se manifesta como universal e não mais pessoal, em que se dissolve a ilusão da dualidade sujeito-objeto. Segundo o mandukaya Upanishad, um dos textos básicos da yoga hinduísta, este estado seria caracterizado como sendo um somatório dos três estados precedentes. As medidas eletroencelográficas confirmam este texto, já que se registrou em yogues em estado de superconsciência, chamado de samadhi na tradição hinduísta, ondas eletroencefalográficas delta, características do sono profundo sem sonho, enquanto os yogues estavam completamente despertos e de olhos abertos.

Neste estado todos os fenômenos paranormais costumam aparecer, embora os verdadeiros mestres plenamente realizados não costumem fazer alarde dessas manifestações. Eles têm um completo controle das suas emoções destrutivas, inclusive o orgulho. Muito mais eles manifestam, o tempo todo, amor verdadeiro e sabedoria infinita.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

JANELA DE ÔNIBUS


LUIZ MARTINS DA SILVA

Nem chegava a ser aldeia,

Mas tão somente um enclave

De casinholas plantadas

Em meio a torrões de areia.



Linha limite de olhar rente,

Olhos de câmera a insistir

Em registrar em retinas

Aquela teima de gente.



E não é que havia festa,

Sons de imaginários caniços,

Música para ouvidos secos

Acordes de surda planície!



Que instinto lhes tangia?

Caprichos da natureza?

Colher encanto e beleza

Em canteiros de anestesia?



Que graça a vida em confins

Terá para tais serventia?

Devotos da solidão

Sequidão e castidade?



Pior a não mais se ver

Paisagem para cidade

E não é que fluía no ar

Mormaços de saciedade?



De toda aquela modorra

Ficou-me paz solidária

Dos escondidos afetos

De quem vive sem calendário.



Talvez a lhes ungir no deserto

Um fraternal sentimento

De que há sempre um feriado,

Matiz de aldeia sonolenta.



Lembranças em desconcerto

Persistem pretéritas afora

Enchendo-me de convencimento

De que posso ser feliz, mesmo agora.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

OS CORPOS SUTIS


Escreve Amit Goswami em A FÍSICA DA ALMA :

(...) Nos Upanshads ( Livros sagrados da Escola Hinduísta) há uma descrição dos cinco corpos do ser humano. O mais grosseiro é o físico, renovado constantemente por moléculas de alimentos e, por isso, chamado em  sânscrito de annamaya( feito de anna, comida). O próximo corpo sutil é chamado de pranamaya ( feito de energia vital, prana) ; refere-se ao corpo vital associado aos movimentos da vida, expressados como reprodução, manutenção etc. O próximo corpo, ainda mais sutil , é monomaya ( feito de mana, substância mental), ou seja, o corpo do movimento da mente. O seguinte, chamado de vijnanamaya feito de vijnana, inteligência), é o intelecto supramental ou corpo de temas, o repositório dos contextos de todo os três corpos "inferiores". Finalmente, o corpo anandamaya( feito de ananda, não substancial, a alegria espiritual ou sublime) corresponde a Brahman- a base de tda a existência, a consciência em sua qualidade última.