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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Livro dos Prazeres






















"Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a cada dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustoso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela -apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco,eu beijo o seu focinho.Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome,ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e ai. Aviso tambem que nao se deve temer seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera. A gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez."

Clarice Lispector- Uma aprendizagem, ou o Livro dos prazeres
Óleo sobre tela- Sadiq Toma ( Pintor iraniano)

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