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domingo, 28 de dezembro de 2008

POEMA DOS ÚLTIMOS DIAS

"Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d’oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?..." _ ( Florbela Espanca, Vozes do Mar)


Em toda praia há cardumes
Não é possível ver os peixes entre corais iluminados
Só o cheiro acre dos restos na areia.
Em todo poeta há um verso inacabado
Destes que habitam o pensamento
Moram atravessados entre os dentes .
Temo pelos meninos que chegam ao mundo
Sem pipa, passaraio e bola de gude.
Temo pelos dias que chegarão em caixas
Fechados, sem códigos ou chaves.
Sonhei com um dia claro
Um jardim pontilhado de colunas
Água e flores entre elas .
Meus três filhos cantavam no meio das águas
Seus rostos brancos como cera
Seguravam entre as mãos a lucidez perdida.
Vim ao mundo para atravessá-los
Sem bote nem salva-vidas
Só os quatro e o arrastar das águas.
O barulho das ondas mescla-se com o vento e canta fino como um lamento .
São as vozes dos anjos , dos meninos e dos peixes
Puxo-lhes os pés gelados, seguro-os pelos braços.
Há luz na praia, uma fogueira acesa .
Em toda areia florescem cardumes de rosas
Corais de magnólias e perfumes de jasmins.
Há versos e flores entre cabelos
Canções de infância e dias azuis
amarelos, verdes, brancos, infinitamente brancos.

Luísa Ataíde

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