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sábado, 9 de janeiro de 2010

VIAGEM CÓSMICA



ESTRELAS DUPLAS
“Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação
Não tem explicação,
Não tem, explicação, não tem, não tem.”
- O SEGUNDO SOL - NANDO REIS


A aglomeração de estrelas formada pela grande nebulosa a Via-Láctea possui vários sóis. Entre esses diversos sóis, a maioria é como o nosso, cercada de mundos secundários, que iluminam e fecundam. Uns, como Sírius, são milhares de vezes mais magníficos, em dimensões e riquezas, do que o nosso, cumprindo assim um papel mais importante no Universo . Também os planetas , em maior número, são muito superiores aos nossos. É assim que um certo número desses sóis, é acompanhado de seus gêmeos da mesma idade e formam no espaço os Sistemas Binários. São as estrelas duplas. Ali os anos não mais se medem pelo mesmo período, nem os dias pelos mesmos sóis, e esses mundos iluminados por uma dupla luz receberam condições de existência inimagináveis pela maioria de nós que nunca saímos do pequeno mundo terrestre. Os efeitos prodigiosos de luz produzidos pelos dois sóis para os habitantes desses mundos , apesar da proximidade aparente , permitem a circulação entre eles, e ainda receberem alternadamente ondas de luz diversamente coloridas, cuja reunião recompõe a luz branca.

Zarias atravessou a ponte entre sua casa e a entrada principal da cidade , onde passava o maior período da manhã. Deu alguns passos e entrou no círculo claro. Neste ponto sempre caminhava com mais cuidado, pois a visibilidade era como de estrada em nevoeiro. Alguns passos e bateu o ombro em alguém que caminhava em sua direção.

_ Desculpe aí amigo!, disse o estranho.

Zarias parou por uns segundos e olhou o desconhecido. Subitamente observou que há anos não ouvia uma comunicação verbal e não decifrou em princípio o dialeto. O estranho continuou:

_ Por favor você poderia me mostrar a saída? Acho que eu me perdi.

Zarias sabia que conhecia a linguagem e estava diante de uma situação inusitada, dessas que acontecem a cada dez mil anos. Lembrou-se das lições de quando era criança, dos inúmeros idiomas e dialetos verbais que aprendera. Era hora de utilizá-lo.

- É..., um.. hã... Muito prazer, meu nome é Zairas eu vou ajudá-lo.

-Você pode me dizer porque raios, eu não estou enxergando nada, acho que bati a cabeça.

_ Eu também, não estou enxergando muito , saí de casa sem o devido preparo. Mas não se preocupe, siga-me . A ponte não é muito grande, logo estaremos do outro lado.

Quando chegaram do outro lado, o estrangeiro olhou tudo a sua volta, não acreditando no que via. O Céu tinha uma tonalidade rósea e em alguns pontos cintilavam corpos aqui e ali. Não eram estrelas, flutuavam no ar, sumiam e apareciam continuamente. Ou seriam ?

- Vem cá, amigo isto aqui é algum planetário. Olha faz tempo que eu não vou num...

- Não, este é um dos céus de Sirius.

_ E aquilo ali, parecem... dois sóis?

- São dois sóis. Acho que você caiu aqui por engano.

_ E você que dizer que eu estou em outro...

_ Você está em outro mundo. Não sei como veio parar aqui , mas com certeza sua estada não deve durar muito tempo . Na sua contagem penso que alguns minutos.

_ É... acho que eu estou dormindo e devo acordar em alguns minutos ..., bem já que estou por aqui que tal você me mostrar tudo então . ... Eu não disse meu nome. Meu nome é Zacarias.

- Seja bem-vindo Zacarias, mas... estou desconfiado de alguma coisa... Eu já vi contar sobre acontecimentos como estes. Veja... estenda seu braço à frente.

O estrangeiro esticou o braço e foi como atravessar uma cortina invisível. Sentiu a umidade do ar e a vibração sobre a mão. Viu um ponto de luz formando-se entre os dedos e puxou a mão rápido.

- Agora vire -se de costa, de onde você veio, e tente esticar a mão. O estranho obedeceu e encontrou resistência.

_ É vidro?

- É como se fosse; só que não se quebra , disse o dono da casa.

- Observe quando eu estico o meu braço, continuou. Atravessou com metade do braço a parede não visível.

- Observe, disse ainda, que eu não consigo atravessar a parede a sua frente, como você fez.

- Você quer dizer que estamos presos aqui sobre esta ponte.

- Não, eu quero dizer que você segue em frente e eu sigo em direção contrária.

- Cara, você quer dizer que eu vou pro seu planeta e você segue pro meu?

_ Parece que sim.

- Isto quer dizer que se isso não for um sonho, nós não voltamos para nossas casas?

- Com certeza..

- Eu vou te dizer uma coisa seu Zairas, só olhando o espetáculo no céu eu vou te dizer que seu planeta é fantástico.

- O seu, pelo que eu estudei, é belíssimo.

- E como eu vou me comunicar. Todo mundo fala a minha língua como o senhor?

_ Os que não sabem se esforçam. Vou lhe adiantar que o senhor terá muito o que estudar.

- Eu vou lhe adiantar também que as coisas por lá, aonde o senhor vai, são complicadas. Mas eu acho que o senhor se sairá bem.

- Faz tempo que recebi umas aulas sobre esse tipo de viagem. Vou procurar me lembrar durante o caminho. Boa sorte, Sr. Zacarias. Acho que o Senhor será feliz enquanto estiver por aqui.

_ Quer dizer que ainda vamos nos reencontrar?

_ Daqui a um tempo..

- Eu deveria alertar o Senhor Seu Zairas, mas acho que o Senhor saberá fazer as melhores escolha. Dê aqui um abraço.
Em pé sobre o fim da ponte , sob os sóis de um dos planetas da nebulosa, dois homens se despediam. O caminho à frente do desconhecido foi alargando-se e plantações de girassóis eram vistas ladeando a trilha. Ora ele tocava a parede à esquerda da trilha , ora à direita. A textura era de bolha de sabão, mas não se rompia. O desconhecido deu alguns passos e o imenso jardim de girassóis abriu-se a sua frente , não mais havia paredes laterais. Os sois sobre os girassóis criavam uma linha sinuosa lhe indicando a passagem. Zairas olhou o homem por algum tempo ir sumindo na curva luminosa. Inspirou fundo e não teve medo.
"Inspirado no capítulo - Uranografia Geral- do Livro A Gênese- Allan Kardec"

Um comentário:

Sonia Schmorantz disse...

É um bonito texto, gostei muito de ler.
beijo