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segunda-feira, 14 de março de 2016
RIOS
O maior universo natural é um rio. Ele vai em frente, esconde vidas, é transparente por natureza, e é possível ouvir o seu silêncio.
L.A.
fotografia- Josilda Leite
sábado, 23 de janeiro de 2016
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
OS MISTÉRIOS DE UDOLPHO- PEDRAZUL EDITORA (livros- os melhores presentes)
A PEDRAZUL EDITORA lança a preciosa edição em português do Brasil, de OS MISTÉRIOS DE UDOLPHO, em dois volumes. Falar de Ann Racliffe para mim sempre foi fascinante, a biografia da escritora tem sido meu alvo de pesquisa nos últimos anos. Ann é uma das personagens de fundo, do romance em gestação.
Ainda não cheguei ao meio do primeiro volume de Os mistérios de Udolpho, a casa está revirada estou de mudança, contudo entre caixas e caixotes , sento às vezes no chão e leio um capítulo.
Sempre tenho a impressão que sei o que ela vai dizer na próxima linha. Acho que eu estava em Londres, quando a primeira edição foi publicada. Com certeza uma daquelas moçoilas sonhadoras que devoravam os primeiros escritos dela. A paixão não é de hoje.
Genial a ideia da PEDRAZUL de lançar clássicos ingleses não editados no Brasil. Eu que apenas li O ITALIANO ,uma edição portuguesa, e OS CASTELOS DE ATHLIN E DUBAYNE, este em inglês, apelando muito para o dicionário on line, achei que nunca leria um livro da autora ( de carreirinha, como diria minha avó) estou mesmo em êxtase.
Para quem não conhece a editora vale a pena conferir a grandiosidade de seu trabalho:
obs: a edição é um primor, com certeza uma boa ideia de presente para o final do ano.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Entre aspas- Clarice
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.
Clarice Lispector
domingo, 2 de agosto de 2015
SOBRE A ARTE DO CONTO EM LUISA ATAIDE
«Na verdade, um escritor nunca está só.
Na verdade, um escritor tem a divindade nos dedos ao criar pessoas, escrever estórias e decidir destinos»
Luisa Ataíde “O
Entregador de livros” (Crônica)
Entre o sonho e a escrita há milhões de chaves de cofres
entreabertos. Entre estas chaves gostaria de colocar a contista brasileira
Luisa Ataíde.
Mas as chaves
procuram a fechadura de um secreto jardim. É um jardim de magnólias. A
magnólia, uma flor que pode ser também o nome de uma mulher tal como acontece
no conto “O Rouxinol e a Cotovia”. Eis pertinho de nós essa mulher-personagem
que se transfere da alma da escritora para a folha de papel, com todo o
mistério da escritora e da personagem: “Se pudesse, eu escreveria tudo que vivo
num diário e depois de findo o dia, voltaria ao passado, estendida sobre uma
cama com lençóis branquinhos”. Rebuscando-se e desocultando-se, há um sentido
novo e inesperado neste, como o há igualmente em muitos outros dos seus contos.
Encontramos, a
cada momento, Luisa Ataíde a escrever com a singeleza e a criatividade de um
princípio do mundo. Cada conto é uma história a que Luisa Ataíde transmite uma
novidade, uma intensidade desconstrutora daquilo que ultrapassa a lógica. Essa
mesma lógica que transborda do real. Real e aparência, lógico e irracional,
verdadeiro e falso entrecruzam-se como num bailado, na escrita de Luisa Ataíde.
Na autora de «O
Cemitério de Estrelas» ̶ um dos seus mais belos contos ̶ a
literatura é uma reconstrução a partir de ruínas. O mundo é representação de
alguma coisa que não está lá, mas que nós lhe atribuímos. E a atribuição de
alguma coisa mais ao mundo é transferida para a força imagética presente nos
contos de Luisa Ataíde. Escreve em «O Rouxinol e a Cotovia»: “Enquanto todos
dormem espero o sono que ronda o quintal lá fora”. Em «Ponte sobre Almodóvar»,
destacamos a frase: “Das paredes nasciam lentamente as vibrações da música”. E
do conto «O Cometa Azul», não resistimos a esta metáfora: “O Menino passou
naquela casa, que nem era realmente uma casa, apenas uma semana”.
No site
internético “Harmonia do mundo” têm sido publicadas muitas destas peças
literárias que nós colocaríamos na linha de Clarisse Lispector ou de Fernando
Pessoa. O som e a voz inaudível de Luisa Ataíde são a plenitude na escrita
densa e simples desta autora nascida no Rio de Janeiro, em 1957.
Candidata a
alguns prémios literários, desde o «Prémio Rachel de Queiroz (2º Concurso
Literário)», a «Anjos de Prata» e ao «Delicatta – Projecto Literário», em todos
ficaria classificada em primeiro lugar. Os poucos contos publicados em livro
estão esparsos por Colectâneas, mas não estão reunidos em obra de sua exclusiva
autoria. Esperamos ver, em breve, a reunião de todos aqueles textos que têm
estado a ser publicados apenas em site ou blogues internéticos.
No caótico
cenário da criação primordial a autora molda cada palavra como se fosse ainda
uma palavra desconhecida, esquiva e sem um destino. Tudo nela está envolto numa
poeticidade de raiz. “As lembranças estavam se tornando branquinhas como areia
entre os dedos e distante como um canto de infância”, escreve Luisa Ataíde em
«O Poço dos Desejos». Em «Os Girassóis Azuis», avança: “A parede da sala de
jantar é de vidro e pode-se ver o vento balançando as pétalas grandes”. No
conto «A Caixa», diz a certo passo: “Tentou olhar o planeta mais de perto e
olhou o endereço entre os dedos”. Transcrevemos ainda uma PASSAGEM de «Quartos
Crescentes»: “O relógio sobre a mesa insiste em dar voltas em torno das três
horas”.
A surrealidade é
uma marca do conto de Luisa Ataíde, mas essa surrealidade assume uma inegável
importância porque imbuída de uma candura inexplicável a tocar aquilo que há de
mais belo na natureza humana.
Podíamos
multiplicar os exemplos da riqueza metafórica e do esplendor artístico do conto
surrealista de Luisa Ataíde. Cada conto de Luisa Ataíde é uma obra de arte. As
palavras surreais, adivinhando-se nas significações e nos sentidos, tocam o céu
com o toque do realismo naturalista presente num humano a transcender-se na
imaginação da construção literária.
Os jogos das palavras
articulam-se com os jogos das ideias e estes emaranham-se nos jogos das
significações que se enovelam, por sua vez, com os jogos dos sentimentos
forjados nas tempestades da vida quotidiana, designadamente da mulher.
Em todos os contos
de Luisa Ataíde há uma poética que joga incessantemente com as entrelinhas da
arte da escrita. Com a ingenuidade lúdica com que cobre a literatura, Luisa
Ataíde inscreve-se na mais alta ficção de Língua portuguesa.
A sua sabedoria
descobre-se a cada frase. O seu domínio da palavra traça-lhe um lugar de destaque na arte de
construir novos edifícios na ficção. Com um sentido da arte de escrever
apurado, transmite o sonho como se fosse um devaneio que só tem verdadeiro sentido
quando a conduz à escrita.
A autora de «O
Cometa Azul» ou de «Deixai Vir a Mim» revela a força da palavra a
transfigurar-se em artista do conto. Aqui está Luisa Ataíde a escrever pequenos
contos de encantar, como se cada um deles fosse uma vida inteira. Em cada um
deles vive sempre o delírio da sua enorme criatividade literária. Com a arte ao serviço da imaginação, arrisca
as palavras como se pintasse uma pequena tela. Aqui a pintura que ela não tem
também deixado de cultivar.
Com as palavras,
Luisa Ataíde desenha enredos labirínticos e solta deles um cântico poético. As
palavras entrecruzam-se num discurso diegético de claro-escuro, em que emerge
uma verdadeira teia teatral, como se fosse uma irrupção vulcânica de sentidos.
A propósito, relevo uma PASSAGEM do conto intitulado «No coração de Bodhisattva
Guan-Yin»: “O primeiro diagnóstico que recebemos era uma palavra feminina e
grande”. Aqui vemos Luisa Ataíde correndo atrás das palavras como se elas
fossem os únicos sinais ou os guias exclusivos de uma vida entrecortada por
estranhas formas de vida.
Em cada um dos
seus belos contos somos confrontados com um mundo a tocar a simplicidade de uma
chávena de café ou de um canto de ave ou, muito simplesmente, de um silêncio
cortado pelo perfume do incenso.
Lisboa, 25 de Março de 2010
Teresa Ferrer Passos
segunda-feira, 13 de julho de 2015
ALICE E ANA
Não havia dias claros para Alice. Enquanto os gatos subiam o telhado, ela riscava com o dedo o caminho das estrelas pequeninas do céu. As vezes, um vento gordo e ruidoso batia as janelas da casa e derramava para dentro do quarto as lágrimas da noite. A menina enfileirava os soldados prontos para guerra - guerreiros armados até os dentes que atravessavam pântanos e dunas para chegar ao campo de batalha. Eles sempre cantavam durante o trajeto. Nenhum dos soldados em trajes de gala esperava encontrar os inimigos. Sonhavam com bolos matinais e beijos de noiva e riam, talvez do ritmado eco dos passos nas pedras. Iam em frente.
A menina trancava todas as pequenas pedras no armário de roupas, pois eram parte de castelos e terraços, e tinham cheiro de jardim. Não havia brinquedos na casa, era uma infância nua de cores e sons. Era um quarto branco e grande, fundo e oco como um baú de madeira e todass as dezenas de camas ao lado estavam vazias, sempre.
Naquela noite, Alice deixou aberta a janela e o sopro do vento fez tremer o apanhador de sonhos por três vezes. Este leve movimento a fez adormecer e mudar de casa. Era agora a casa de janelas e portas de desenhos sinuosos na madeira - alecrins dourados , longos e doces, ornamentavam a fachada. As portas e janelas só abriam por dentro. Além disso o caminho estreito que subia até a entrada da casa não convidava às visitas. Quando a nova moradora viu-se dentro da casa, olhou o teto azul que movia-se passo a passo e seguiu com ele por corredores e escadas. Não sentiu nenhuma vontade de abrir nenhuma das portas, procurava um pequeno ruído, quase um canto. Colocava junto as portas o ouvido para aprisionar a música. Ela conhecia o som, ela conhecia os versos, ela os encontraria. Subiu o mais rápido que e pôde e dobrou os passos a direita. Viu o lastro luminoso que vinha. Era um cântico de infância nascia entrecortado por tropeços de palavras, era a memória de alguém que fragmentava os versos. Era uma voz de criança.
Abriu com força a última porta. A claridade a impediu de ver. Esperou um pouco. A menina de costa, voltou-se ligeiro e sorriu.
L.A
domingo, 31 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
LEMBRETE
" Só para lembrar: No final deste filme a gente morre. Então cante , dance, ria, encante, espalhe amor e seja grato por cada minuto da sua vida"
(desconheço a autoria)
terça-feira, 5 de maio de 2015
NEPAL, NEPAIS
LUIZ MARTINS DA SILVA
Ai, de ti, Nepal,
Logo, tu e os teus,
Na reverência aos budas,
Cerimonial de escombros.
Imaginei e indaguei,
Por que não eu,
Vivente errante, filisteu,
Certamente, indigno.
O mundo acode a ti
E aos teus em compaixão,
Hoje, toneladas em aviões,
Amanhã, tuas crianças, quem dera.
Tão cedo monges,
Tão cedo sutras,
Récitas de agradecimento,
Mesmo ao terremoto.
Moto contínuo, perpétuo,
Não sendo aqui o Nirvana,
Tudo ilusão, segue o mantra,
Mas, é mais que nosso umbigo.
Obrigado, Deus, ao Nepal,
Obrigado Deus pelos amigos,
Obrigado, Deus pelos antepassados,
Obrigado, Deus por sermos filhos teus.sábado, 21 de fevereiro de 2015
ENTRE ASPAS
"A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você." (Ralph Waldo Emerson)
sábado, 31 de janeiro de 2015
DIUTURNO
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
domingo, 16 de novembro de 2014
ENTRE ASPAS- MANOEL BARROS
"Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores."
domingo, 5 de outubro de 2014
LÁHIRI MAHÁSAYA
Láhiri Mahásaya dizia frequentemente:
"A operação de leis sutis, desconhecidas do povo em geral, não deve ser publicamente discutida ou divulgada, sem o devido discernimento. Por trás de todas as manifestações fenômenicas, marulha o Infinito, o Oceano de Poder. A sede de atividade mundana mata em nós o senso de reverência espiritual. Por outro lado, quando a alma se acha em comunhão com um poder mais alto, a natureza automáticamente obedece, sem esforço e sem tensões à vontade do homem. Este domínio fácil sobre a natureza é chamado milagroso, pelo materialista que não o compreende."
domingo, 14 de setembro de 2014
CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
MÁRIO QUINTANA
Tão bom viver dia a dia...
A vida assim jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens do céu...
É só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar !
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdida,
Atiro a rosa dos sonhos
Nas tuas mãos distraídas...
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