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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O SÁBIO E A LENDA


FERNANDO HENRIQUE DE PASSOS- Lisboa, PT


 De dentro da noite, o sábio olhou a estrela, Uma estrela igual a cada estrela, Das muitas a brilhar dentro da noite. Se um dia fosse dia em vez de noite, Se um dia as leis fossem mais claras, Tão claras como é clara a luz do dia…
 Por certo, sabia muito o sábio, Mas, quanto mais sabia, Mais escura a noite se tornava. Se um dia uma estrela se soltasse, Se do céu caísse sobre a Terra, Contra as leis que o sábio conhecia…
 E o sábio tentou esquecer as leis Que com tanto trabalho descobrira, Mas as leis eram já parte do seu corpo. Contudo, uma estrela igual às outras, Que o sábio avistara nessa noite, Sendo igual, parecia ser diferente…
Dentro da noite, o sábio recordou a lenda muito antiga que um dia ouvira a sua mãe: Uma estrela, uma gruta, um Salvador- Um Deus Menino! Se ao menos aquela estrela se movesse...
E a estrela começa a deslocar-se e o sábio segue-a, segue-a durante muitas noites. E a estrela detêm-se sobre a gruta, a mesma gruta de há cem séculos, a mesma lenda muito antiga...
 E a luz daquela estrela instaura o dia, o dia que o sábio nunca vira, nem mesmo sabia imaginar. E no centro do dia havia um Deus, um Deus Menino, o Deus de que falava a velha lenda...
 E a mãe do Menino olhava o sábio, e ao sábio parecia a sua mãe, a mesma a quem ouvira a louca lenda,  e o sábio chorou e, de joelhos sob um dilúvio de luz abrasadora, pôde enfim esquecer todas as leis...

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