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domingo, 15 de março de 2009

EM FREIO



E eu vos direi, no entanto
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto"
Ora direis, ouvir estrelas - Olavo Bilac



Há um trem desgovernado que, em uma das estações do ano, acelera em declive. O maquinista em hipnose voluntária esqueceu-se que é o maquinista e as três da tarde observa inebriado as estrelas. Os que estão lá fora gritam-lhe o desatino. Ele em doce insanidade caminha pelos vagões vazios e, sob teto de vidro, respira o ar noturno. A locomotiva acelera em cada curva. Clark Kent agora abre a camisa , sobe ao telhado e dança. A brisa toca-lhe os ombros e derruba o quepe. Então o maquinista dança com a noite sobre teto de vidro. É menino em desavisada valentia.
Os que estão na estação observam impacientes e decidem: há que se parar o trem. Os futuros passageiros preparam-se, juntam pedras e as acumulam sobre os trilhos. Há um aviso em vermelho no canto da bilheteria. A mulher que vende doces ao lado da bilheteria aponta o aviso .
“ Protejam as crianças”.
O trem avança e apita, ainda há pedras sobre os trilhos. A locomotiva sai da curva em rápida tangente. Os passageiros olham o céu, olham-se muitas vezes e gesticulam. Uns jogam pedras, outros benzem-se. O homem sobre o teto ainda canta.
L.A

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