dire

dire

sábado, 5 de novembro de 2011

DESPEDIDAS


LUIZ MARTINS DA SILVA

Custam-me as antevésperas das partidas,

tanto me constrangem na espera


as horas do sem fazer.


Adianto ânsias de embarques,


embargo-me em saudades que até sinto,


mas que de verdade ainda estão por vir.


- E então, quando vais?


- É pra já. É só um bocadinho.


Ter que dizer adeus é como estar presente ao próprio funeral.


E não fica bem a quem já se sabe longe


estar a comprar jornais,


bisbilhotar miudezas em tabacarias,


dobrar esquinas,


encontrar conhecidos:


-- Não fostes, ainda?!


Incômoda ambigüidade esta,


de estar sem já não ser.


Uma vez anunciado,


é-se obrigado a partir,


ainda que os pés se entortem para trás,


ainda que possas virar estátua de sal.

Nenhum comentário: