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terça-feira, 30 de agosto de 2011

A SAÚDE E O NÃO PERDÃO



LOUISE L. HAY

Sempre que estamos doentes, necessitamos procurar dentro de nossos corações para descobrirmos  quem precisamos perdoar. O conhecido livro Course in Miracles diz. "Toda doença tem origem num estado de não-perdão e "sempre queficamos doentes, precisamos olhar à nossa volta para vermos a quem precisamos perdoar".
Eu acrescentaria a isso que a pessoa a quem você achar mais difícil perdoar é a DA QUAL VOCÊ PRECISA SE LIBERTAR. Perdoar significa soltar, desistir. Não tem nada a ver com desculpar um determinado comportamento. É só deixar toda a coisa ir embora. Não precisamos saber como perdoar. Tudo o que necessitamos fazér é estarmos dispostos a perdoar. O universo cuidará dos "como".
Compreendemos bem demais nossa própria dor. Como é difícil para a maioria de nós compreendermos que eles, sejam lá quem forem, precisam de nosso perdão, também estão sofrendo dor. Precisamos entender que eles estavam fazendo o melhor que podiam com a compreensão, a consciência e o conhecimento que tinham na época.
 Quando alguém vem a mim com um problema, não importa qual seja - má saúde, falta de dinheiro, relacionamento insatisfatórios, criatividade sufocada -, trabalho unicamente numa só coisa, ou seja, : em amar o eu.
Aprendi que, quando realmente amamos, aceitamos e aprovamos a nós mesmos exatamente como somos, tudo na vida funciona. Écomo se pequenos milagres estivessem em todos os cantos. Nossa saúde melhora, atraímos mais dinheiro, nossos relacionamentos tornam-se mais satisfatórios e começamos a nos expressar de forma plena e criativa. Tudo parece acontecer sem nem mesmos tentarmos.
Amar e aprovar a si mesmo, criar um espaço de segurança, confiança merecimento e aceitação resultará na criação da organização da sua mente, criará relacionamentos mais amorosos em sua vida, atrairá um novo emprego e um nvo e melhor lugar para viver, e até permitirá que seu peso corporal se equilibre. Pessoas que amam a si mesmas e aos seus corpos não se prejudiam e nem prejudicam os outros.
A auto-aprovação e auto-aceitação por aqui e agora são as principais chaves para mudanças positivas em todas as áreas de nossas vidas.
O Amar a si mesmo, amar o eu, começa com jamais nos criticarmos por nada. A crítica nos tranca dentro do padrão que estamos tentando modificar. A compreensão e o sermos mais gentis conoscos nos ajudam a sair dele. Lembre-se , vocês esteve se criticando por anos e não deu certo. Tente se aprovar e veja o que acontece.

Do livro- Você Pode Curar Sua Vida.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

NOS BRAÇOS DOS ANJOS



À memória, necessária , de Brenno Ataíde  Lessa


Nós não compreendemos muito.
Porque  por mais que tentamos traduzir os idiomas do mundo
Há a linguagem dos que não caminham um passo após o outro.
Eles saltam a janela, e vivem a plena capacidade de estar só.
Vivem só, riem só, sonham só. 
Há cores que só eles pintam, há trilhos que nunca alcançaremos.
Isso porque,  pisamos, apenas,  as pedras das ruas -  no máximo os telhados das casas.
Eles alcançam as asas do vento e às vezes tombam como pássaros feridos.
A palma da mão de Deus os acolhe e protege.
 O sopro da vida enche-lhes de novo os pulmões.
Porque a vida é cíclica e nunca se esvai.
Somos eternos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

VECTOR NULO


  

FERNANDO HENRIQUE  DE PASSOS

Uma criança anda perdida no deserto.
Percorre há milênios os não-caminhos de areia.
Detém-se agora ante a magnificente esfinge
E faz-lhe uma pergunta.
O Sol abrasador enche tudo de silêncio.
A criança escolhe uma direção ao acaso
E continua a caminhar.

Do livro- Horas de Trevas, Horas de Luz

sábado, 13 de agosto de 2011

ENTRE OS ATOS- VIRGÍNIA WOOLF






Antonio Bivar prefaciou Entre os Atos , o último romance escrito por Virginia Woolf publicado postumamente, quatro meses depois de seu suícídio numa sexta-feira, 28 de março de 1941. Virginia estava com 59 anos quando afogou-se no Rio Ouse. A última pessoa que a viu, relata Bivar , foi John Hubbard, empregado de uma fazenda local. Hubbard contou que era por volta de 11h30 da manhã quando Virgínia , de sobretudo e bengala, passou por ele em direção ao rio.  Largou a bengala, enfiou pedras nos bolsos do casaco e entrou no rio. Deixara , em casa, cartas para o amigo Leonard e para a irmã Vanessa , que morava a poucos quilômetros da Fazenda. Na carta explicava ter certeza de estar ficando louca novamente e desta vez sem esperança de cura. Acreditava que nunca mais ficaria boa e não achava certo continuar dando trabalho aos aoutros. Escreveu ao marido:
"Querido, tenho a certeza que estou enlouquecendo de novo. De modo que estou fazendo o que parece melhor. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida e que sem mim você poderá trabalhar. Você foi absolutamente paciente comigo e incrivelmente bom. Se alguém pudesse me salvar, teria sido você. Não creio que duas pessoas tenham sido mais felizes do que nós fomos."
Ao descobrir as cartas , Leonard telefonou para Vanessa e , acostumado às rotas de Virgiínia foi até o rio onde encontrou, na margem, a bengala da mulher. Nos dias e semanas seguintes as buscas foram incessantes. Os jornais noticiaram o desaparecimento da escritora, amigos manifestaram profunda consternação e alguns escreveram obituários para os principais jornais ingleses. O corpo so foi encontrado três semanas depois, no dia 18 de abril, na outra margem do rio. Cinco adolescentes passeando de bicicleta pelas redondezas pararam para um piquenique e viramum corpo boiando entre arbustos. Correram a avisar a polícia. Era o corpo de Virginia Woolf. Leonardo foi sozinho à cremação , em Brighton.
Virgínia , assim que terminou de datilografar Entre os Atos  entregou o livro para o escritor e amigo John Lehmann que agora era sócio de Leonard Woolf na editora Hogarth Press , que ela e o marido haviam fundado em 1917. Imediatamente após entregar o livro veio a insegurança. Pediu a Lehmann que adiasse a publicação, que não viu motivo para adiamento. Virgínia sempre temia a reação de amigos e da crítica , ao lançar novas obras, com esse romance sentia-se mais apreensiva do que nunca. Contudo, todos que a conheciam tinham a erteza de que, como ela havia superados as outras crises, com tratamento e repouso, embora sob os cuidados da médica e amiga Octavia Wilberforce, ela acabaria superando mais essa crise. Todos acreditavam nisso , menos Virginia. Mesmo com a cabeça explodindo de ideias projetos sentia estar perdendo a energia criativa e que seu tempo havia passado, Com a guerra ninguém queria saber de livros. Mecklenburgh Square, onde ficava a última residência londrina do casal Woolf é posta abaixo num bombardeio. A casa em Tavistock Square , onde também viveram tantos anos, antes de se transferirem para Mecklenburgh Square tamvém fora destruída. "Tudo é entulho onde escrevi tantos outros livros", ela escreve no diário. 
Em Entre os  Atos se fundem fragmentos de poesia, versos e rimas infantis, provérvios, notícias da guerra ,  elementos pós-freudianos, em seu espetáculo- produzido com parcos recursos ( lençois pintados representando a Civilização em ruínas). Miss La Trobe, a personagem , se empenha para que todos entendam que a história nada mais é que repetição sem sentido. A única alternativa é a voz dos poetas - delicada, pura, musical e incorruptível.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

SINCRASIAS


  

Luiz Martins da Silva 

Peso não se destina às ilhargas,
Por mais flanco que homem seja.
Peleja, sim, parábola de bola,
Pois Pedro é mais que egrégora. 

E essa História de forja,
 De tudo ferrado a labor,
Melhor metal bem seria
Trinado de pássaro em aurora. 
Planta, fruta, grão amêndoa,
Que sal não é suor de pranto,
Muito mais doce é o sândalo. 

Vigília não seja furto,
Pois beijo de roubo é o sim.
Este, sim, merece o farto.

terça-feira, 5 de julho de 2011

DICAS PARA QUEM GOSTA DE AJUDAR ( Brasília-DF)



Muitas vezes queremos ajudar, mas não sabemos como. Outras vezes
guardamos ou jogamos fora objetos que não usamos, por não saber para
quem doá-los. A resposta está aqui:

1. Aquele computador que você não usa mais:
CDI - Centro de Democratização da Informática.
É uma ONG que trabalha com a população carente do DF e Entorno e que
necessita de doações de equipamentos para continuarem o trabalho.
Marco Ianniruberto - Secretário Executivo do CDI-DF
diretoria@cdi-df.org.brAldiza - aldiza@esquel.org.br (61) 3322-7233

2.  Doando bicicletas usadas:
Rodas da Paz URL=http://www.rodasdapaz.org.br/ Recebe doação de bicicletas
novas, usadas, com defeitos ou quebradas. Consertam/reformam e doam
para creches de crianças carentes. As que não tiverem conserto, eles
aproveitam para fazer triciclo para deficientes físicos.
thebruce@terra.com.br  // URL=http://www.osteixeiras.com.br Maurício 8408.8498
Andréia 9986.2911 / 3447.4551

3. Ajudar pessoas com câncer:
Movimento de apoio ao paciente com câncer. É uma entidade sem fins
lucrativos com o objetivo de atender, em suas necessidades materiais e
afetivas, os pacientes carentes em tratamento na Unidade de
Radioterapia e Quimioterapia internados no Hospital de Base de
Brasília. Ingressando como voluntário, sua presença é muito
importante; fazendo doações de cestas básicas, brinquedos, roupas e
calçados, novos ou usados. Presidente: Maria José - 8442.9091  //
Lílian - 9219.3998

4. Devolvendo a boa visão a pessoas que não podem comprar óculos:
Voriques Óptica URL=http://voriquesoptica.com.br/index.php Recebe óculos
com defeitos ou quebrados. Consertam e doam para idosos e crianças
carentes. Centro Médico de Brasília - SHLS 716 Bloco F loja 16/43
Voriques 3346.6100 Marina/Walace 3346.9692 (marketing)
marketing@voriques.com.br  //  assessoria@voriques.com.br Pátio Brasil
Shopping - Térreo Loja 104W 3225.8586 / 3223.3496 Centro Comercial
Gilberto Salomão - Lago Sul 3248.6952 / 3364.3616

5. Doando eletrodomésticos usados:
Recebe eletrodomésticos usados e com pequenos defeitos, restauram e
repassam. 100 Dimensão

Sônia, Ângela 8442.3275 angel01@hotmail.com Melhorar a qualidade de
vida de centenas de família: QN 16 conj. 5 lote 2 Riacho Fundo II (na
entrada)

6. Doando roupas, alimentos, brinquedos e outras coisas que não têm
mais utilidade para você:
Recebe roupas, alimentos, brinquedos etc. Ajuda a cuidar de dezenas de
crianças abandonadas. Aldeias SOS ? 913 Norte //
URL=http://www.aldeiasinfantis.org.br

7. Fornecendo remédios para quem não pode comprar:
Recebe doação de remédios. Quem forneceu os contatos foi a Dra. Neide
(HRAN) 3325.4249 neide@linkexpress.com.br

8. Doando quimonos de judô usados:
Tranquillini. Ele dá aulas de judô para crianças carentes de 7 a 17
anos e recebe quimonos usados. Tel: 3224.7728 e-mail:
tranquillini@abordo.com.br

9. Doando potes de vidro e leite materno:
Seus potes de vidro usados podem ajudar a salvar vidas de muitos bebês
(e seu leite também). Campanha de vidros para armazenar leite humano.
Berçário do Hospital Santa Helena. Acima de 30 vidros, eles buscam em
casa. Tel : 3215.0029 Vidros de maionese, nescafé ou qualquer outro
com tampa de plástico.

10. Doando livros (qualquer tipo de literatura):
Açougue Cultural T-bone - Parada Cultural é um projeto de biblioteca
popular desenvolvido em 36 pontos de ônibus da Avenida W3 Norte, 24h
por dia. Diariamente são emprestados cerca de 2.000 livros. Para fazer
doações de livros basta deixá-los no Açougue T-Bone, das 8h às 19h.
URL=http://www.t-bone.org.br/ Endereço: SCLN 312 Bl B Lj 27 Brasília-DF
CEP 70.765-520 Tel: +55 (61) 3274.1665 Aceitamos qualquer tipo de
acervo, desde que esteja em bom estado de conservação.

11. Doando/vendendo livros e cd´s
Os livros que você não quer mais não devem ir para o lixo. Leve no
COPE Espaço Cultural. Esta loja compra, vende e troca livros e cd's
usados. Recebem livros abaixo da 5ª série e doam para escolas
públicas. 3274.1017 CLN 409 Bl D lj 19/43 Asa Norte 3201.1017 SIA/Sul
Conj. B lojas 418/420 Feira dos Importados

12. Ajudando os animais:
Adoção de animais abandonados e doação de remédios e alimentos.
ProAnima - Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal.
Entidade sem fins lucrativos SCLN 116 - Bloco I - Loja 31 - Subsolo
Ed. Cedro - Brasília – DF - CEP 70553-790 Tel: (61)3032-3583 e-mail:
proanima@proanima.org.br

13. Ajudando ao próximo
Se você é jovem e quer se juntar a outros jovens que estão fazendo
algo pelo próximo, entre em contato com a ONG Sonhar Acordado. Mateus
- 9963.9639 3468.3769 mateus@sonharacordado.com.br //
URL=http://www.sonharbrasilia.com.br/blog/ Voluntariado - passe um dia com
uma criança carente. Doação de roupas, calçados, alimentos, materiais
de construção.

14. Doando Sangue
Hospital de Base. Endereço: SMHS, Quadra 101, Área Especial. 3325-4050
1 - Fundação Hospitalar/GDF, próximo ao HRAN - Setor Médico Hospitalar
Norte, Quadra 03, Conjunto A, Bloco 03. O atendimento é feito de
segunda a sexta-feira, das 7h às 18h e aos sábados, das 7h às 12h.
Outras informações pelos telefones 160 e 3327.4424/4410 ou no site URL=http://www.fhb.df.gov.br 2 - Fundação Hemocentro de Brasília. Endereço: SMHN
Quadra 03 - Conjunto A, Asa Norte. Telefone: 3327.4462/64 E-mail:
pr@fhb.df.gov.br

15. Doando Órgãos:
Disque Saúde-Transplante: 0800.611997
URL=http://dtr2001.saude.gov.br/transplantes/hotsite/ //
URL=http://www.abto.org.br/populacao/populacao.asp Central de Captação de
Órgãos - SMHS-Hospital de Base do DF, mezanino, sala 102 (61) 3325.





Gentilmente enviado por J. B. Arruda

segunda-feira, 4 de julho de 2011

SONETO XI


 OLAVO BILAC

Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo perdeste o senso! E eu vos direi , no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas , pálido de espanto...

E Conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao ouvir do sol, saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

ALQUIMIA MATINAL


Luiz Martins da Silva


Toda manhã, bem cedinho,
Feito oração saborosa,
Uma história de carinho
Vem aquecer a memória.


Descobriu um pastorzinho,
Lá nos rincões da Etiópia,
Cabritas pulando eufóricas
Depois de pastar a frutinha.


Mal sabia o abissínio
Que o efeito do café
Hoje, depois de milênios,
Ainda bota a gente em pé.

Por isso faço esta ode
E de todo o coração
Dedico ao pastor de bodes
Estes versos de fogão.

Saídos, passados na hora,
Feito licor aromático
Dádiva vegetal generosa
De tantos poderes mágicos.

domingo, 22 de maio de 2011

JURIS ET DE JURE (Conto)



O mar , asseguram os poetas, guarda o segredo dos rios. Esses , em obediência cega, entregam-se à sua imensidão.


As fotos envelhecidas em marrom e bege, espalhadas sobre os joelhos e o vestido, eram o que eu conhecida dele. As imagens não eram nítidas, mas podia vê-lo sentado na varanda da casa enquanto os olhos corriam além da curva dos dias. Os dedos magros torciam a palha do milho num movimento infinito das mãos. Em que país moravam suas lembranças ?
Os primeiros anos de infância já denunciavam o fascínio pelas estórias que os mais velhos contavam. Elas abriam-se a minha frente, como se as visse da janela do quarto. As casas não possuíam luz elétrica, e as estradas de poeira e pedra levavam sempre a casa de Seu Bento. Era homem de pouca leitura, o suficiente para ler a Bíblia pela manhã enquanto os filhos dormiam. Lia em voz alta como se quisesse que as palavras lhes chegassem ao sono. A casa cheirava a café e salmo.
Assim como um quebra-cabeça sobre a mesa, eu reconstituía uma casa e uma família que não vivera. Aninhava-me nas cobertas, entre os meninos, como se fosse possível estar ao lado de pai e tias. Podia ouvir por que Deus fez céus e terra e deu aos homens um coração bom. Sentava-me à mesa e recebia, também, o pão de aveia, dando graças ao Senhor. Tudo me era possível à medida que retirava da caixa de sapato as fotografias.
As pessoas chegavam cedo ou vinham nos fins de tarde. Havia sempre cadeiras na entrada da casa como se também fosse dele o ofício da espera. Com a mesma sabedoria que Deus deu a Salomão, decidia quantas sacas de feijão seriam pagas e se as cabras deveriam ficar aquém ou depois das cercas. Se dizia que o casamento era devido, cevavam-se os porcos e bordavam-se as toalhas. Como as estradas ainda eram trilhas naquelas terras de Minas e não havia pontes para cortar caminhos, os vizinhos entregavam seus conflitos a Seu Bento. Ele os ouvia pelo tempo que elas julgavam necessário . Alguns, por vez, alteravam a voz; outros , em tom resignado, diziam confiar em Deus. Após um breve suspiro, ele arqueava as sobrancelhas e definia novos caminhos às desavenças. As pessoas recebiam a decisão como se procurassem em terreno árido água fresca , encontrando sorviam o reflexo em água doce como recompensa. Assim, compunham-se os conflitos e arrastavam-se os dias deste lado do rio.
Seu Bento tivera muitas filhas, mas apenas um "filho homem" . O menino desde cedo se entendia mais com os cavalos e vacas do que com a natureza das mulheres. Gostava mais do curral que da sala da casa. Acompanhava a prenhez das éguas e os partos mais difíceis até o apagar das estrelas. Costurava asas e cortes profundos, acalmava e curava dores - queria ser Veterinário.
À medida que os anos corriam, as pessoas viam nele a continuação do pai, e assim esperavam que se tornasse o Juiz da cidade.Um dia a mãe entregou-lhe a melhor camisa, ainda morna da lisura do ferro, engraxou-lhe as botas e entre fardos de farinha, viu afastarem-se : a casa, o curral, as árvores pequenas que costeavam o rio e ainda as pedras que se alinhavam cada vez mais rápido à passagem do carro. Desde então, quando retornava nos feriados prolongados, corria primeiro ao curral e ali passava o melhor das horas. Assim foi na primeira vez e nas que se seguiram. Aos poucos passou a observar o curral das sombras do quintal, depois, da janela da cozinha. Os anos seguintes o encontraram olhando apenas da janela do quarto. Não mais.
A cidade transformou suas trilhas em estradas que se ladearam em casas e nas casas os homens, no acender dos lampiões, guardavam seus dias como pães dormidos em latas sobre o aparador. João Deodato formou-se em Direito.

Era homem de pouca conversa, se bem me lembro. Nem quando me entregara naquela manhã o pacote:

− Ana, é seu. Disse monossilábico.

Esperava mais que o pacote estendido. Retirei da caixa a boneca muito loira. Tal qual a moça do filme dei-lhe o nome de Miss Molly. Usava um vestido armado e um decote com rendas. O cabelo preso ressaltava-lhe o azul dos olhos. Fôramos juntos ao cinema e ele entendera o meu encanto com a heroína das diligências do Velho Oeste. Lembrara-se disso ao comprar a boneca. Era seu jeito de abraçar a filha.
João Deodato deu a todos o destino que lhe reservaram. Aos trinta anos era Juiz na cidade vizinha. Nunca entendi porque não trabalhava no fórum perto de casa. Nem porque minha mãe dizia que aqui ele era suspeito. Suspeito não era um desses homens que mal se vê o rosto e que se esconde atrás dos postes? Hoje, retirando da caixa todas as fotografias , vejo apenas um homem incomodado no terno escuro, como se os sapatos lhe apertassem os pés diuturnamente.

Todas as tardes eu sentava com Miss Molly no meio da escada e a cena que via era sempre a mesma. As mulheres aguardavam aflitas o telefone tocar. Ao primeiro sinal corriam do andar de cima ou da cozinha em pavorosa. Às vezes repetiam em eco uma das outras, aglomeradas ao redor do telefone:

− O juiz saiu do Fórum!!!

O telefone desligava. Elas aguardavam ansiosas a nova chamada.

Recomeçava o coro:

− O Juiz entrou no bar!!!
Sentavam-se espalhadas pelas poltronas da sala. Novo telefonema.

− O Juiz terminou uma garrafa!
Agora em aflição:


− O juiz subiu na mesa!

Hora de pegar o carro da família e correr para a cidade vizinha. À tardinha entravam arrastando o homem. Um homem desabado no tapete da sala. Quando saíam, eu o cobria com a colcha da cama e colocava sob a cabeça a almofada. Na manhã seguinte encontrava-o novamente recomposto na cadeira da cozinha. Os gestos eram curtos, tomava apenas o café escuro.

Um dia, uma das tias encontrou-me folheando os livros na estante da sala e comentou:

− Essa menina é muito inteligente, vai ser uma excelente professora!

Ele olhou-me do fundo dos olhos e disse:

− Só se você quiser.

Lembro-me sempre desta determinação tardia que, por não lhe ser mais útil, ele me presenteava Fiz um curso técnico de Botânica e abri uma floricultura no centro ao lado do cinema. Há no fundo uma sala de experimentos e estudos. Cultivam-se ali variadas espécies de Orquídeas.

Luísa Ataíde

Fonte:Prêmio Contos para Viagem − Volume dois, Editora Arte Literária, São Paulo, 2006, pp..61-64.

domingo, 8 de maio de 2011

João Guimares Rosa, na fotografia de Maureen Bissiliat- CASA FERNANDO PESSOA ( LISBOA)



Exposição de Maureen Bisilliat traz fotógrafa até Lisboa




“Aprecio imagens aliadas à escrita, frases escolhidas definindo melodicamente a linha da orquestração. Em livros como os de Diane Arbus (1923-1971), de Nan Goldin (1953), há essa orquestração: ritmos, silêncios, acordes, vazios. A palavra, escolhida da produção literária ou pinçada do testemunho biográfico, vem da fala íntima da pessoa, destilada. Seria quase como escrever com a imagem e ver com a palavra.” (Maureen Bisilliat)


A exposição A João Guimarães Rosa permite um olhar simultâneo sobre a produção fotográfica e a produção editorial de Maureen, revelando tanto a fotógrafa como a editora de imagens e textos nesta exposição sobre Guimarães Rosa e o universo do sertão brasileiro e dos seus personagens. Os seus ensaios fotográficos foram sempre concebidos e apresentados em fortes sequências visuais que sintetizam a visão da autora sobre os universos do real e do imaginário, compondo aquilo que denomina de equivalências fotográficas das obras literárias que nortearam o seu trabalho.

Maureen Bisilliat nasceu em Englefieldgreen, Surrey, Inglaterra, em 1931. Estudou pintura com André Lhote em Paris (1955) e no Art Students League em Nova Iorque (1957) antes de se fixar definitivamente no Brasil em 1957, na cidade de São Paulo. Trabalhou como fotojornalista para a Editora Abril entre 1964 e 1972. Autora de importantes livros fotográficos inspirados em obras de grandes escritores brasileiros, expõe em 1985 em sala especial na 18ª Bienal Internacional de São Paulo. Em Dezembro de 2003, a sua obra fotográfica completa, composta por cerca de 16.000 imagens, foi incorporada no acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles (IMS) no Rio de Janeiro em função da sua inquestionável relevância no âmbito da fotografia e da cultura brasileiras.

A Casa Fernando Pessoa e o Instituto Moreira Salles sentem-se honrados em trazer esta exposição para Portugal, pois entendem que a síntese entre imagem e texto que Maureen Bisilliat realiza nesta mostra em homenagem a Guimarães Rosa possibilitará ao público português aproximar-se ainda mais deste autor da língua portuguesa que reflecte e regista na sua obra aspectos profundos e determinantes da cultura brasileira, evidenciados igualmente nas marcantes imagens de Maureen aqui reunidas.

terça-feira, 26 de abril de 2011

CLARIDADES


Luiz Martins da Silva


Obrigado, insônia, por parir-me de novo no raso do momento,

Por divisar-me novamente, antes que seja claro o horizonte,

Por sacudir-me, outra vez, antes que fossem de verdade

Todos os meus temores de uma infinidade de infâncias.

Obrigado por retirar do meu rosto o tempo em fios brancos,


(Austera lição de humildade e despretencioso pranto),

Por brincares comigo acenando incertezas de eternidade,

Diante de um espelho que me redivive em mais lembranças.

Queria compartilhar com essa legião de faces em repouso

(Cada um em sua página, vasta literatura de memórias)

O farfalhar das horas, lá fora a brisa brincando de arrasto.


Ninguém por testemunho, só este teclado a quem ordeno:

Anda, não para, vai dizer ao mapa mundi e à humanidade

Que eu acordei para ninar toda a população desta cidade.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

GIBRAN



"Vossos filhos não são vossos filhos.

São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E, embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.

Porque eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;

pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,~

porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.

O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que Suas flechas se

projetem rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:

pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável."




( De "O Profeta" - Gibran Khalil Gibran )

domingo, 10 de abril de 2011

VIRGÍNIA WOOLF



"A nossa vida é uma incerteza. Um cego que revoluteia no vazio em busca de um mundo melhor cuja existência é apenas uma suposição."

terça-feira, 29 de março de 2011

CASCO AO VENTO



            Luiz Martins da Silva

Barro oco,
Barroco barco,
Arco de toco;
Troco, não troço.

Encontrar canoa,
Serventia pluma,
Se não há espuma,
Haja lua de areia.

Escama de sereia
Promessa, viagem,
Travessia a nado,
Do nada ao adro.

Estando ao meu lado,
Convite de embarque,
Pirapora, por ora,
Balsa de pau flutua.

Pintura- Vladimir Kush

segunda-feira, 21 de março de 2011

ENCARAR DE FRENTE



Teresa Ferrer  Passos

Mesmo que seja o infortúnio, o silêncio
mesmo que nada encontre, ou só a dor,
eu tenho de encarar de frente!
Mesmo que a solidão seja rainha,
mesmo que fique sozinha,
eu tenho de encarar de frente!
Mesmo que a dor se imponha ao ser,
mesmo que a cruel verdade possa ser,
eu tenho de encarar de frente
a terrível ilusão de nada ter!

Do livro- Asas no Poente