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sábado, 28 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE UMA PAIXÃO CRÔNICA





BENILSON ATAÍDE


Santa Maria, há tantas. Santa Maria, há uma só. Santa Maria de tantos Josés e inúmeras Marias, há varias pelo Brasil afora. Mas Santa Maria, dos fatos inusitados, de tantos talentos e de gente boa como Zé de Maria, violeiro e ambulante, "retra(r)tista" e amigo, há somente uma: A nossa Santa Maria da Vitória...

Que outra Santa Maria é SAMAVI? ( Pra lhe ser transparente, Homem de Vidro, nunca Vi!) que outra consegue prender tantos andarilhos com uma Só Corrente? João-come-tudo, aqui arrotou com liberdade... Maria Ré-Ré, usou a marcha correta quando percebera que deixava a cidade. Cidade Riso, na boca do povo a qualquer hora, em qualquer hora, porque Zelino Jega Yéia continua vivo e o cirquinho dele agora é itinerante. Está nas "resenhas" no bar de Tampinha, nas esquinas da Leopoldo, na Rua dos doidos, no Malvão, Macambira ou nas anedotas de Salvador. Não Salvador do Mercado Modelo, mas de Salvador do Mercado, somente. é verdade! Esta Santa maria da "Contraditória" é assim: "Rua de cima" na parte baixa da cidade; Seu Alto era baixo; Zé leite, negro: As Carrancas do Mestre, quanto mais feias mais beleza expressam. Grande é pequeno; Pequeno de Maria Alegre é grande na liderança de um coletivo que não pára no ponto.
Quem de sua água bebe, mais sede de viver tem. Quem abusou da Farmácia do Nelito, adoeceu e bateu as Botas..."
(Adeus ingrata: Santa Maria Bateu na Lapa!!!).

Belisca-me oh! Irmã de Morais, desperta-me para compor versos irreverentes que sinceramente, não parece com ninguém. Assim como o céu de Santa Maria que não parece com nenhum outro. È extremamente lindo! Estirado numa esteira, contemplo-o sem compromisso e talvez por isso, adormece em mim uma Poesia que insiste não virar poema. Que bom! Assim , cada qual pode descrevê-la a sua maneira, poeticamente falando. Santa Maria é assim, com a mesma liberdade que os mais velhos põem cadeira na porta, uma moça pula da cama, só de camisola, e sem hesitar, nos mesmos trajes, acompanha a Alvorada da 06 de Outubro pelas ruas da cidade até que , sobre os telhados lá pelo rumo de Sambaíba, surge um clarão anunciando mais um nascer de dia, nesta cidade encantadora que renasce a todo instante para proporcionar a seus filhos e moradores a maior Vitória da existência humana: A certeza de que viver, cercado de amigos, respirando o ar puro desta cidade é mais que gratificante, é SA-MA-VI-TAL!!!

Por essas e outras, confesso-te: "Amar-te-ei de coração,
Oh! Santa Maria, minha Terra, minha Razão!"
Parabéns pelos 96 anos!!! Um forte abraço do filho que te ama
Becê Ataíde


Nota do Blog: Santa Maria da Vitória (Bahia) completou 102 Anos em 2011, a bela crônica do Benilson foi escrita em 2005.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ANO BOM



JULIO CAPILÉ


Estamos recebendo um ano novo. Um papel em branco para nele escrevermos parte de nossa história espiritual. Estamos consciente de que temos falhado em muita coisa durante o ano que findou. Alguns tiveram desditas, frustações, desentendimentos, dificuldades de toda ordem, mas , se fizerem um balanço entre o tempo de sofrimento e de alegria, estes estão sobressaindo. Tivemos lutas? Mas estamos aqui ainda em pé e com a obrigação de fazes deste ano um ano bom. Os antigos não cumprimentavam dizendo " Feliz Ano Novo" Chamavam o ano entrante de Ano Bom. Isto revelava a esperança  que sempre deve ser renovada de que tudo ocorrerá melhor no futuro.
Temos à  nossa frente trezentos e sessenta e seis dias bem novinhos à nossa  disposição  para enfeitarmos com nossos pensamentos e realizações. Com o conhecimento de nossas falhas anteriores podemos corrigir rumos, a fim de não insistirmos nas mesmas faltas. Mantendo-nos com pensamentos positivos teremos mais oportunidades de acertar. Somos falíveis, mas tenhamos em mente que não temos o direito de sofrer. Somos filhos de Deus e como tal, seus herdeiros. Deus não tem sofrimento e, consequentemente, não podemos herdar isso. Além disso, este mundo não é de sofrimento e sim , de provas e espiações. Portanto ,temos a obrigação de vivermos felizes.

Existem as pessoas que, psicologicamente, são sofredoras naturais. São incorrigíveis. Sofrem na alegria e na dor. São proprietárias das nosologias, cujos sintomas e desconforto, sentem. Dizem "a minha gastrite", "minha enxaqueca" . Em vez de dizerem que sentem a dor, dizem: sofro de dor no estômago, na coluna, nas pernas.  Portanto estão ligadas ao sofrimento e, dessa forma. às dores, aos desconfortos e, dessa forma, o mal estar aumenta. Se pensarmos sempre positivamente e usarmos o verbo sentir em vez de sofrer, minimizaremos todos os males. O sofredor vive pensando sempre em si mesmo e pesquisando sensibilidades. O não sofredor não dramatiza os males de que é acometido, e, assim, não sofre, ou por outra, suporta melhor as dores. não as apregoa e nem se queixa. O sofredor é queixoso.

Portanto, pensemos no bem e escrevamos as páginas deste ano com atos felizes , esforço para errarmos menos, boa vontade para com todos inclusive para com "os que nos maltratam e caluniam". Procuremos servir sempre, ter paz interior, evitar pensar no mal, praticar a caridade em todas suas nuanças, ter alegria de viver, procurar transmitir alegria em todos os ambientes em que estivermos, lutar por compreender nossos semelhante, usar só palavras que estimulam e confortam e amar tanto quanto possível a todas as pessoas. Se assim procedermos teremos no final um ano bom.

Deus é Felicidade, é Abundância, é Vida Plena. Portanto vivamos felizes. Temos a grande felicidade: somos filhos de um Pai que não tem defeitos!


Nota do Blog:  Júlio Capilé é um jovem médico de 96 anos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ACEITAÇÃO



Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.

                                       CECÍLIA MEIRELES

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

MINUDÊNCIAS DIVINAS



Luiz Martins da Silva


Já por mim, é do meu feitio gostar de certas nódoas,


Postas como flagrar quando Deus desce das maiúsculas


E vem cear no orvalho das carícias sobre musgos,


Delícias de liquens sobre rugosas superfícies.


É nesses momentos de incontido júbilo


Que olho para os céus e, nos desenhos de nuvens,


Cismo de ver como entes voláteis, mas insinuantes,


Combinam devaneios de enviar para cá as substâncias.


Eu escrevo estas lereias como se fossem homilias


De um novo, mas velhíssimo culto do bucólico,


Afeito a contemplações de texturas caóticas,


Mas que são dos oráculos reveladoras trilhas.


Dos oceanos emanam atenções magnânimas,


Por vezes, pavorosos duelos de titãs.


Mas que no seu arrebatamento espetaculoso


Apenas revolvem e reciclam intimidades ínfimas.


N’outro dia, alguém sabendo-me desses bobos:


“Olha, fotografa, você que gosta desses troços...”.


Ora, eram radiantes recém-nascidos cogumelos,


Esgueirando-se inaugurais de uma tampa de esgoto.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

BETELGEUSE- A LUMINOSA DE ÓRION (conto)




 A constelação de Órion apresenta a forma de um quadrilátero com as Três Marias no centro. O vértice nordeste do quadrilátero é formado pela estrela avermelhada Betelgeuse, que marca o ombro direito de Órion. O vértice sudoeste do quadrilátero é formado pela estrela azulada Rigel. Betelgeuse e Rigel são as estrelas mais brilhantes da Constelação.



Houve um tempo em que a Astronomia confundia-se com a Astrologia. Os mapas findavam-se em contornos retos e as estrelas, ainda pagãs, espalhadas na vastidão noturna faziam do céu um espetáculo a quem quisesse ver. Os sacerdotes da Pérsia que não eram reis, santos ou magos, pressentiram que a grandiosidade da luz simbolizava o nascimento, em algum lugar do Oriente, do rei de todos os reinos. Conta-nos o Livro Sagrado que munidos de incenso, ouro e mirra seguiram a estrela, que parou sobre a casa onde dormia o menino-Deus. Para alguns céticos, Gaspar, Melchior e Baltazar, talvez nunca tenham empreendido a viagem até Belém e a estrela, para o Evangelista, simbolizasse a fé, assim como o ouro simbolizava a riqueza, o incenso a espiritualidade e a mirra a imortalidade. Contudo, astrônomos, posteriormente, confirmaram a presença do fenômeno luminoso, à época, embora os calendários se contradigam na precisão da data. O certo é que aquela poderia ser a estrela mais brilhante da constelação de Órion e cujo brilho para realmente ser visto, necessário faz-se que fechemos os olhos e sigamos o pulsar das batidas do coração. Uma vez misturados os sentidos, poderemos ver por todos os poros do corpo, ouvir pelo êxtase das pupilas e sentir o toque acre ou doce da pele entrar pelo centro da cabeça e escorrer como rio caudaloso por todos os órgãos do corpo.


 ESTAÇÃO DE PASSAGEM
Mintaka é uma das três entradas da Estação de Passagem a sítios mais distantes. As manhãs são envoltas em neblinas e uma chuva fina cai incessantemente e incomoda quando toca os ombros. São lágrimas das mulheres, as mães, cujas silhuetas desenhadas pela parca luminosidade, formam um círculo extenso que contorna o cinturão de Órion. Eles, por sua vez, chegam em pequenos grupos. São muito jovens e falam pouco ou quase nada. O véu do esquecimento deixou-lhes um vasto buraco negro na memória, contudo um rasgo pequeno deixa-lhes a última cena gravada, num vai e vem contínuo. Se levantarmos a ponta do véu a hipnose individual cai ao chão como pequenos cristais e a cena, antes fragmentada, ganha movimento e vida.


A moça olha para trás subitamente como se ouvisse o ruído forte de frenagem de pneus. Os olhos rendem-se ao pavor da luz do farol que avança em grande velocidade. O baque forte do encontro dos carros quebra o silêncio que havia em volta. Ela sente o corpo arremessado pra frente e cai. Os outros caminham ao redor e presos ao ímã de sua própria fatalidade, seguem em frente. Ela chora em demasia e se contorce de dor.




DEZEMBRO


Quando as luzes intermitentes do planeta anunciam a comemoração do nascimento do Cristo, as ruas vestem-se de cor e sonhos e as lojas os vendem embalados em laços coloridos. Os anjos da misericórdia sopram sobre as casas uma mistura analgésica de fraternidade, esperança e fé. Contudo, em meio ao som dos cânticos natalinos, da urgência das lojas e festas há um som abafado de dor que prende a tarja do luto como uma guirlanda negra presa à entrada das casas. De toda saudade pelas vítimas da violência urbana, dos acidentes de trânsito, das intempéries climáticas, entre as vítimas das escolhas indevidas, está o soluço forte das mães dos jovens que habitam a Constelação de Órion. Que canto lhes alegraria a alma? O que poderia interromper subitamente o punhal arremessado ao peito?

Em Mintaka, Alnilan e Alnitaka, as Três Marias do cinturão de Órion, era noite de Natal. A Estação de passagem e apoio aos jovens, que deixam bruscamente suas casas e não mais retornam, foi invadida pelo som de harpas e flautas. As vozes dos cantos gregorianos, contrariando a ordem natural da rota de mensagens, acordaram os anjos e as almas. O som veio de algum lugar do planeta, cruzou as paredes de pedras, dançou sobre planícies e rios e subiu ao céu. Os jovens chegaram às janelas dos hospitais e olharam a noite, o tabuleiro estrelado que se abria sobre suas cabeças. Os anjos trabalhadores do Cinturão de Órion ouviram o som miraculoso dos cânticos. Não havia a sombra das silhuetas no portão de entrada e a chuva fina cessara subitamente. Além da Nebulosa, além do cintilar dos pingentes de brilhantes, as mulheres dormiam. Betelgeuse, uma das luminosas da Constelação emitia seu esplendor sobre a noite escura. A estrela erguia seus raios como uma torre impera sobre um reino de beleza e luz.

Chegaram: Gaspar, Melchior e Baltazar. Um deles era tão jovem quanto os meninos de Órion. O do meio era um homem feito e o último tinha barbas brancas e uma harmonia que irradiava, quando ele olhou tudo em volta. Logo depois, chegaram as mães. Elas vinham de chinelos e roupas de dormir. Algumas traziam um rosário entre os dedos, outras apenas um livro pequeno. O canto dos monges viajava entre os ouvidos e fluía por todos os poros do corpo. Os jovens, das janelas, olhavam lá embaixo: os camelos, os sacerdotes da Pérsia e o riso das mulheres. Ali, naquele momento, era possível morrer apenas a saudade.


Primeiro eles mandaram bilhetes e cartas. Os papéis voavam das janelas e as mães corriam em direção a eles. Elas acenavam aos rostos conhecidos e riam. Um riso cristalino e farto como um rio. Os meninos desceram as escadas em direção ao redemoinho de papéis. Os três reis reconheceram a estrela que os conduzira há muitos anos, sobre mares, montanhas e desertos. Betelgeuse atravessou as fronteiras da galáxia, e o Criador envolto num novo projeto de ampliação do Universo sorriu por breve instante. Havia a chuva de pingos cintilantes, sobre os visitantes de Órion.


Luísa Ataíde

domingo, 4 de dezembro de 2011

ELEGIA DOS SINOS


LUIZ MARTINS

Os sinos, porque se dobram,
No bronze de nossas vidas,
Nas bênçãos de nossas sinas,
Nas ondas de nossas auras,


Quando soam, soam bem,
Para o bem de nossas almas.
E aos aldeões, bem mais calmos,
Emendam salmos: amém, amém.




Sinos, campainhas, chocalhos...
Tantos badalos ecoam,
E logo os céus nos perdoam
Do quanto fomos daninhos.


Mesmo que assustem andorinhas
E os pombos dos torreões
Que sempre repiquem os sinos
Ao fundo dos corações.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

SONETO DA DESILUSÃO


Osmar Aguiar

 Na vitrola, o vinil gira empenado
Conduzindo a agulha de diamante
Que arranha num tom desafinado
A cantiga de um amor tão dissonante.


 O ruído rouco da rabeca apavora
O peito já desprovido de harmonia
Ecoando o sentimento que outrora
Rimava e ritmava em melodia.


 Não posso eu cantar outro refrão
Se já não tenho nenhum repertório
que me torne um grande regente


para transformar esse amor ilusório
em uma ária de tom eloquente
sem medo e nem  desilusão.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

LUIS DE CAMÕES



"Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, e dói não sei porquê."

domingo, 13 de novembro de 2011

AMOR E TEMOR


"O perfeito amor lança fora o temor". (I JOÃO, 4:18.)

LUIZ MARTINS DA SILVA

Com pigmentos de candura me tinjas neste Dia,
De adornar minha nudez diante do Eterno.
Por que temer feito o cordeirinho de uma fábula,
Acaso não terei direito a mãe na hora do Juízo?


 Que imagens me sagrarão perante o crivo do Divino,
Carrasco desde sempre, de rigor emoldurado?
Solene, severo, sentado no trono das degolas:
Aguarda-me um Deus algoz brandindo a sua espada.


 Oh! Quantos filhos! Cabeças e sentenças!
Na ala dos diletos, ternura e compaixão;
Aos arredios da doutrina, castigo e padecimento.


Quanta vida dissipada! Agora, arrependimento!
Mas, eis que Ele me unge com as suas asas de bálsamo
E beija a minha face aspirando aromas de inocência.

sábado, 12 de novembro de 2011

CHICO XAVIER


A gente pode morar numa casa mais ou menos,
 numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos,
e até ter um governo mais ou menos.


A gente pode dormir numa cama mais ou menos,
 comer um feijão mais ou menos,
ter um transporte mais ou menos,
 e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

TUDO BEM!

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...

é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos,
 namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos,
e acreditar mais ou menos.

Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ROSÂNGELA ATAIDE



O TEMPO

sou de mar

feito nostalgia,

deságuo em marés

minha melancolia.

aplumo

nas asas do tempo

a liberdade que me guia.



sou de vento

e ao léu estou à tempo

no caminho

numa canoa

que se lança

ao mundo neste espaço

marinho

vôo longe

onde há fleuma

e alegria

sábado, 5 de novembro de 2011

DESPEDIDAS


LUIZ MARTINS DA SILVA

Custam-me as antevésperas das partidas,

tanto me constrangem na espera


as horas do sem fazer.


Adianto ânsias de embarques,


embargo-me em saudades que até sinto,


mas que de verdade ainda estão por vir.


- E então, quando vais?


- É pra já. É só um bocadinho.


Ter que dizer adeus é como estar presente ao próprio funeral.


E não fica bem a quem já se sabe longe


estar a comprar jornais,


bisbilhotar miudezas em tabacarias,


dobrar esquinas,


encontrar conhecidos:


-- Não fostes, ainda?!


Incômoda ambigüidade esta,


de estar sem já não ser.


Uma vez anunciado,


é-se obrigado a partir,


ainda que os pés se entortem para trás,


ainda que possas virar estátua de sal.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O EXÉRCITO DE CHIAN ( CONTO)






  Imagine que o universo é uma imensa máquina giratória. Você quer ficar perto do centro da máquina – bem no eixo da roda -, e não nas extremidades onde os giros são mais violentos, onde você pode se assustar e enlouquecer. O eixo da calma fica no seu coração. É aí que Deus reside dentro de você. Então, pare de procurar respostas no mundo. Simplesmente retorne sempre ao centro, e sempre vai encontrar a Paz.”
                                                  Do filme: Comer, Rezar e Amar.




           Júlia queria escrever uma novela. Seria uma novela como um novelo desenrolando vidas, em que se delineia a personagem como um esboço de desenho: gradual e matemático. Menos matemático e mais aleatório, menos nitidez num rosto desconhecido. E ela tinha pressa.

           Regina não tinha ainda sobrenome. Não, ela não era personagem de Júlia. Na verdade trabalhavam na mesma empresa, em prédios diferentes. Não se conheciam. Regina não decidira sobre assumir ou não o nome do noivo. A moça tinha uma centena de detalhes a acertar a seis meses do casamento: o local, a data, a lista de nomes. Tinha o riso de Léo sempre no canto da memória. Era delicado como pular poças de chuva aos seis anos de idade. Era suave e bom. E ela tinha pressa.

          Júlia desenhava o enredo da história alterando as cores, as frases, os nomes, datas e cidades, isto porque o marido revirava os textos e emails no computador, por pura impaciência diante das ausências dela. Júlia sentia a poeira incomodando a garganta e a falta de um copo de água sem gosto de cloro. Havia a menina para buscar à saída da escola, a organização das contas para pagar. Nas viagens ela sempre arrastava as malas pesadas até o carro. Ele nunca dividia as tarefas domésticas. Vamos conhecer Paris? Não, ele dizia - era o ponto final. Em dias frios e doídos havia o chá a ser feito. Ele saía para a caminhada matinal, a empregada levava o chá. Qualquer problema ela chama um táxi e vai para o hospital sozinha - pensava ele, num sacudir de ombros. Saía pausadamente em direção ao parque. Ele nunca tinha pressa.

          O dia que a moça entrou na igreja, todas as luzes se apagaram. Houve um entreolhar no escuro entre os presentes. Como ninguém via ninguém, houve apenas o intervalo da espera. Um espaço entre um ato e outro. Sinal de sorte. As luzes se acenderam e a moça desceu a escadaria em direção à nave nupcial. Havia o perfume de lírios e uma cor dourada que fazia da sala ladeada de véus e flores uma das moradas da casa de Deus. Havia a moça que sorria e via lá no meio do altar o riso de Léo. Nada mais era necessário. Nada.

          Kin, o marido de Júlia, tanto procurou que achou: o email endereçado a um estranho. Estranho a ele, pois havia uma intimidade de língua e dente. A quase carta falava de sentimentos e chuvas, de desencontros e dúvidas. A partir daí o apartamento virou um campo de batalha. Todas as munições contra o inimigo foram lançadas. Kin não se indagou onde estavam suas falhas. Júlia não se lembrava mais do encantamento dos primeiros dias, do som hipnótico, do trino aos ouvidos. Voltava há doze anos atrás e parecia ouvir os conselhos surdos da mãe quando falara pela primeira vez em unir seu destino ao de Kin.   A moça olhou o apartamento arrumado, os livros organizados na estante, as louças sobre a mesa da cozinha. Júlia estava cansada e já não se importava em salvar nada. Pegou as chaves do carro e foi buscar a menina na escola. Mais do que nunca  ela tinha pressa.

          Regina arrumou as malas. Júlia arrumou as malas, os livros, algum mobiliário. Queria apenas sair pelas portas dos fundos, sem gritaria, sem insultos. Regina e Léo pisaram a areia da praia do Caribe e eram o princípio de uma raça Adâmica que estava por vir. Eles eram a criação e a construção do mundo. Havia os frutos do Éden, as flores do Éden, o riso do Éden . A água límpida do paraíso de Deus.

          Quando silenciou-se a artilharia, Júlia foi embora. Arrumou os móveis no apartamento novo e inundou a casa com um Jazz rouco e macio como um abraço. Colocou os pés no sofá, espreguiçou-se em busca de um pensamento qualquer. Ninguém tentaria ler seu riso e seus olhos. Ficou um tempo entregue a única liberdade que existe: a de pensar. Júlia levou a menina à escola e no caminho de volta, lembrou-se que tinha um blog, uma novela por escrever, uma vida por reconstruir. Assistiu ao filme Comer, Rezar e Amar três vezes na mesma semana.

          Kin rugiu por semanas o abandono. Maldisse todas as uniões do mundo, e os campos tempestuosos que atravessou sopraram camadas de cinzas sobre seu templo  interior. Chorou horas no colo da mãe que remobiliou o apartamento. Comunicou aos amigos que não queria mais a esposa e que ele decidira pelo fim de tudo: isto deveria ficar bem claro.

           Às madrugadas, Kin atravessa a avenida e vai  à praça. Há fileiras de soldados em pé - descalços e estáticos. Vestem uniforme de campana e desce sobre eles uma fina chuva de pólen. Trazem uma pequena flor branca na mão direita e ao iniciar o movimento elas voam sobre eles, como um buquê de noiva rodopia um salão iluminado. O movimento é lento como a chuva sobre as cabeças e as mãos abrem contornos de círculos. Kin olha o exército de soldados que erguem a cabeça ao topo com leveza. Está parado em volta da praça, e observa os movimentos do Tai Chi: o avançar e recuar, o ir e vir, olhar a direita e a esquerda.
          È preciso vencer o movimento através da quietude, a rapidez pela lentidão. É preciso vencer a dureza através da suavidade.



Luísa Ataíde

 NOTA: No campo emocional o Tai Chi Chuan ensina a relaxar, a aceitar as negações do ser humano, a administrar os problemas. Uma  excelente maneira de combater o stress. Os movimentos lentos e sincronizados acalmam o cérebro e aumentam a capacidade de concentração , uma verdadeira meditação em movimento.

domingo, 16 de outubro de 2011

LIÇÕES



Regina Brett, 90 anos de idade,
assina uma coluna no The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.



"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições, que a vida me ensinou."

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno .

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É bom ficar bravo com Deus Ele pode suportar isso.

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.

10. Quanto ao chocolate, é inútil resistir.

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos Mas não se preocupe; Deus nunca pisca!

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você.

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo..

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.
Gentilmente enviado pela Isabel Castro

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

SAUDADE



Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Gentilmente enviado por Osmar de Oliveira Aguiar